quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A luta - VI



A recusa do governo paulista a essas condições, que considerou "de capitulação", seria criticada, tempos depois, pelo coronel Euclides Figueiredo, mesmo tendo sido ele o último comandante a aceitar a derrota: "Seria uma solução intermediária; meia vitória. Erro prosseguir na luta armada, quando por todos os lados o adversário dava mostras de sua superioridade numérica e de recursos crescentes, os quais não podíamos superar somente com a bravura de nossa gente, na esperança de que outros Estados viessem a acompanhar São Paulo".
Ainda havia empenho para que isso acontecesse, principalmente quanto ao Rio Grande do Sul. Desde os primeiros dias do movimento, ainda do Rio de Janeiro, e depois de São Paulo, João Neves da Fontoura cobrava de seus conterrâneos o compromisso assumido com São Paulo, reclamando apoio efetivo no campo da luta.
Não era fácil, porém, aos líderes da Frente Única, então com a polícia no seu encalço, levantar o Rio Grande contra a ditadura, como pretendiam. Borges de Medeiros, Lindolfo Collor, Batista Luzardo, Raul Pilla, Glicério Alves deixam a capital e, em fins de agosto, acompanhados de uns escassos combatentes, vão tentar estabelecer um governo provisório em Santa Maria. Mas são interceptados por tropas leais à ditadura, e os que conseguem escapar se refugiarão em estâncias do Interior, na esperança de se reagruparem mais tarde.
Entre eles, o setuagenário Borges, preso afinal em 20 de setembro, após um tiroteio que durou três horas. O lendário caudilho não conseguira levantar a Brigada, que durante 30 anos se submetera ao seu exclusivo comando. E a ajuda do Sul nunca viria.
A essa altura, no entanto, o próprio comandante-chefe das forças constitucionalistas dava demonstrações - embora não públicas - de que já estava disposto a capitular. Em carta ao ministro da Marinha, almirante Protógenes Guimarães, Klinger pede-lhe que consulte o governo sobre as condições para um armistício. Diz que está disposto a isso porque, "afinal de contas, há união de pontos de vista a respeito do ponto essencial - a pronta constitucionalização do país". (Correspondência idêntica foi por ele enviada ao general Menna Baarreto).
A carta de Protógenes tem data de 12 de setembro, e a resposta, de três dias depois. As condições impostas pela ditadura já são outras: há novo item, prevendo punições para os responsáveis pela rebelião; e não se fala mais em constituição provisória.
Já não há, como se verifica, "união de pontos de vista a respeito do essencial", mas nem por isso Klinger se sente desestimulado a prosseguir as negociações para o cessar-fogo, usando os bons ofícios do general Menna Barreto.
No campo de batalha, as defesas de São Paulo em torno da Capital começam a esboroar-se, principalmente pelos lados de Minas Gerais, e as tropas federais aproximam-se dia a dia. No dia 27, o coronel Herculano de Carvalho, convencido de que não conseguiria manter a resistência no setor de Campinas, para onde fora designado dias antes, organiza uma reunião de oficiais das forças constitucionalistas. Vários comandantes de destacamentos manifestam-se, fazendo um balanço sombrio sobre a situação nas diversas frentes e recomendando providências para um cessar-fogo.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo - Quinta-feira, 8/7/1982 - Jornal da Tarde, página 6

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Dia do Soldado - 25 de agosto



Dia do Soldado - 25 de agosto

Aos heróis soldados que combateram lutando e defendendo seus Estados com sua vida em defesa de sua Pátria nos campos de batalhas por um país melhor para se viver, nossas sinceras homenagens pelo Dia do Soldado.
Às famílias, seus descendentes e heróis que ainda vivem e são verdadeiras fontes de pesquisa, sabedoria e conhecimento de um movimento revolucionário que buscou lutar por uma nova Constituição que se viu promulgada em 16 de julho de 1934.
À memória de todos os soldados que tombaram em defesa de nosso Brasil.
Memorial 9 de Julho - Pedreira - SP

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A luta - V





O fim da luta, nessas condições, era apenas questão de tempo. Se ela ainda se deveu a dois fatores básicos: o esforço dos combatentes e a incrível mobilização da população paulista em torno de uma causa que se converteu em absoluta unanimidade.
Enquanto os soldados e voluntários resistiam nas trincheiras, a população civil atirava-se apaixonadamente à tarefa de suprir, tanto possível, as deficiências que surgiam. As mulheres costuravam uniformes e agasalhos, preparavam refeições de campanha, arrecadavam cigarros e utilidades para os combatentes. A indústria procurou adaptar-se, do dia para a noite, para a produção de capacetes, armas, bombas, munição para fuzis, vagões blindados, enfim, tudo que pudesse compensar a crescente disparidade de material bélico entre os dois lados em combate.
Meio século atrás, porém, faltava à indústria paulista maior desenvolvimento tecnológico para essa súbita transformação: o equipamento produzido nem sempre era perfeito e, fabricado em condições improvisadas, às vezes não funcionava. Por exemplo, durante os testes dos primeiros morteiros feitos em São Paulo, a explosão extemporânea de um deles causou a morte do comandante da Força Pública, coronel Marcondes Salgado, atingido por um estilhaço (o general Klinger ficou ferido no braço e precisou ser hospitalizado por alguns dias).
Foi nessa ocasião que, chamado do Túnel da Mantiqueira, o coronel Herculano de Carvalho assumiu o comando da milícia. É dele, aliás, um relato que dá uma ideia do problema que se tornara a falta de munição:
"Numa análise deste fator preponderante do nosso desastre militar, não me furto a narrar um fato que se verificava no setor Norte (...) Por falta de munição, que insignificante era a quantidade produzida por nossas fábricas, imaginaram os soldados constitucionalistas algo que a substituísse, ainda na aparência: mandaram construir, nas oficinas da Rede-Sul Mineira, em Cruzeiro, uma espécie de matraca. Sacudida com pulso vigoroso, dava a impressão de tiros de fuzis e metralhadoras. O mesmo efeito obtinham de motocicletas postas em funcionamento (...)"
(O relato do coronel Herculano consta de um documento que publicou, após a Revolução, para defender-se das críticas à sua decisão de aceitar um armistício em separado com as tropas da ditadura).
Houve grande esforço, também, para a compra de armas e munições do Exterior, por conta de créditos sobre carregamentos de café embarcado pelos porto de Santos nos dias anteriores à Revolução. Excluídos alguns aviões, porém, o material bélico que veio de fora foi quase insignificante, por razões que iam da demora na entrega das encomendas ao boicote de governos estrangeiros (um navio carregado de fuzis e metralhadoras, o Ruth, foi retido em Miami pelas autoridades norte-americanas, e só chegou a Santos quando os combatentes já tinham terminado.
Com todas essas dificuldades, decorridos um mês de luta, São Paulo ainda preferia rejeitar uma proposta de ditadura, trazida em missão secreta pelo ex-ministro Maurício Cardoso, nas seguintes bases: 1) desarmamento das forças constitucionalistas; 2) formação de novo governo civil e paulista no Estado, excluídos os elementos considerados responsáveis pela rebelião; 3) adoção de uma constituição provisória, que vigoraria até a deliberação da Constituinte.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, 8/7/1982 - Jornal da Tarde, página 6.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

A luta - IV



As unidades mandadas de início para a região de Itararé, supostamente para formar alas à passagem das tropas gaúchas, viram-se de repente na situação de ter de enfrentá-las, em condições de incomparável inferioridade numérica e de armamentos. E só depois de muito reforçadas é que puderam tentar deter o avanço adversário, comandado pelo general Valdomiro Lima. (A disparidade de forças, na Frente Sul, manteve-se ao longo de toda a campanha, mas ainda assim as tropas enviadas por Flores da Cunha nunca conseguiram avançar mais do que 20 quilômetros em território paulista.)
Na Frente Norte, já no dia 10 de julho, tropas da Força Pública eram destacadas para ocupar a região do Túnel da Mantiqueira, a 9 quilômetros de Passa Quatro, passagem obrigatória na rota ferroviária de Minas Gerais para São Paulo. Cinco dias depois, começava a sangrenta luta pelo controle daquele que era considerado um dos pontos mais estratégicos da campanha: se os constitucionalistas o perdessem, estaria aberto o caminho para as tropas federais vindas de Minas e do Norte - Nordeste, através do território mineiro.
As primeiras operações no Túnel foram comandadas pelo coronel Herculano de Carvalho, que mais tarde assumiria o comando geral da Força Pública e seria duramente criticado, em alguns setores revolucionários, por ter concordado com a rendição da milícia, nos últimos dias da Revolução.
Do lado dos federais, um dos comandantes  era o coronel Eurico Gaspar Dutra (então à frente de uma unidade do Exército em Três Corações), que se esquivara de um insistente assédio para aderir à causa constitucionalista. E outro futuro presidente prestava serviços ali: o jovem capitão Juscelino Kubitschek, médico da milícia mineira, que lá organizou um hospital de campanha, tão numerosas eram as baixas de ambos os lados.
A resistência paulista no túnel também se manteve até o fim. Se vencida, teria ficado irremediavelmente vulnerável a retaguarda das forças do coronel Euclides Figueiredo no Vale do Paraíba, já assediadas, frontalmente, por contingentes vindos do Distrito Federal, e pelo flanco (as tropas desembarcadas pela Marinha na região de Parati e Cunha).
Aos poucos a ditadura organizava suas forças, fazendo convergir contra São Paulo tropas das várias milícias estaduais, postas à disposição do governo pelos respectivos interventores.
Todo esse exército - heterogêneo, mas numeroso - passou a fustigar o Estado por pelo menos nove pontos diferentes. Ao norte, além do Túnel (e do Vale do Paraíba) havia as frentes de Itajubá, de Ouro Fino e Pouso Alegre e de Uberaba; ao sul e a oeste, além de Itararé, as frentes de Ribeira e Apiaí e a de Jacarezinho, no Paraná.
Para enfrentar esse contingente, São Paulo contava com 10 ou 12 mil soldados da Força Pública, 8 a 10 mil homens de guarnição federal (os números variam um pouco conforme as fontes) e um voluntariado estimado em 50 mil ora em 100 mil ou mais. O fato é que, pela quantidade de fuzis disponíveis, o número máximo de combatentes paulistas dificilmente poderá ter passado de 35 mil, ao todo.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, 8/7/1982 - Jornal da Tarde, páginas 5 e 6.


sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A luta - III

Destituído de seu comando, porém, Klinger não conseguiu reunir mais que seus ajudantes de ordem e uns escassos soldados, que com ele chegaram a São Paulo no dia 12. "Em vez de termos desse aliado a cooperação com que contávamos, tivemos de mandar forças para abafar, lá, a contra-revolução", comentaria tempos depois o general Euclides Figueiredo. Mas consolava-se: "É verdade que não tivemos tropas desse Estado lutando contra nós".
No Rio, com a precipitação do levante, as forças leais ao Governo Provisório puderam antecipar-se e neutralizar facilmente as eventuais tentativas de adesão ao movimento. O apoio de contingentes do Paraná e de Santa Catarina pouco influiria no destino da luta, mas, de qualquer modo, era em alta escala dependente da posição gaúcha.
Quanto a Minas Gerais, havia quem (como o Coronel Euclides) atribuísse ao velho governador Olegário Maciel certa simpatia pela causa paulista. Ocorre, porém, que os principais constitucionalistas mineiros - Artur Bernardes, Mário Brant, Djalma Pinheiro Chagas - faziam oposição ao seu governo e, depois de alguma hesitação, Maciel acabou ficando com a Ditadura. Já no dia 10 a Força Pública mineira desloca-se para o Túnel da Mantiqueira, na região da divisa entre os dois Estados, onde seriam travados alguns dos mais encarniçados combates de toda a campanha.
Para completar o quadro, a Marinha de Guerra bloqueou o porto de Santos, impossibilitando, desde logo, o desembarque de armas e munições, de cuja falta as forças paulistas iriam ressentir-se dramaticamente ao fim de alguns dias de luta. (A Marinha facilitaria, posteriormente, o desembarque de tropas da Ditadura no Litoral Norte e na região de Parati. Essas tropas bloquearam a coluna paulista que se preparava para avançar para o Rio, a partir da ocupação de Barra do Piraí).
Mas os chefes revolucionários ainda não avaliaram até que ponto estavam isolados e continuavam contando com os supostos aliados. Por designação do general Isidoro, o coronel Euclides assumira o comando do movimento, enquanto não chegasse o general Klinger. No dia 12, finalmente, ele desembarca na Estação da Luz, e Menotti del Picchia assim descreve a cena:
"Na estação, o doutor Ibrahim Nobre, que se tornara o tribuno popular da Revolução, pronunciou um discurso cuja forma alegórica e rebuscada, muito ao gosto do povo e ao sabor do momento, denuncia o estado de exaltação coletiva. O general Klinger respondeu com a famosa frase: "Desembainho a espada em continência à lei", marcando, assim, o sentido nacional e constitucionalista do movimento".
"O trajeto da estação ao Quartel-general foi uma apoteose. A multidão acompanhou delirante o novo paladino da causa que São Paulo abraçara. Para dar marcialidade ao espetáculo, o general Klinger desceu do auto oficial, onde vinha rodeado por vários membros do governo, e montou num cavalo cedido por um dos cavalarianos de sua guarda (...)"
Apesar do aspecto triunfal da recepção, porém, o movimento estava apenas começando. E perdendo momentos irrecuperáveis, segundo a opinião de muitos de seus militares, pois, em três dias, não avançara um passo além da Capital.
Nesse mesmo dia, Euclides Figueiredo passa o comando geral a Klinger e vai comandar o avanço rumo ao Vale do Paraíba, em direção ao Rio. Mas detém-se nos limites do Estado, instalando seu quartel-general em Cruzeiro.
Se tivesse prosseguido rumo ao Rio, segundo o insuspeito depoimento de Benjamim Vargas ao historiador Hélio Silva, "seria recebido com flores, porque as guarnições militares e a própria população eram simpáticas à causa constitucionalista". José Américo de Almeida, à época ministro da Viação de Getúlio, entendia que, se Figueiredo tivesse prosseguido, acabaria dominando a situação, pois iria encontrar Góis Monteiro confuso e indeciso. Ou ansioso para aderir, na opinião de Hélio Silva, que em suas pesquisas identificou indícios claros de que o general não se recusaria a aceitar o comando do levante, se lhe fosse oferecida a oportunidade, pois andava seduzido pela ideia de assumir o poder.
Também o general Brasílio Taborda, que comandou a Frente Sul das forças constitucionalistas, era de opinião, por razões táticas, de que uma ofensiva fulminante sobre o Rio teria decidido a sorte da luta em favor de São Paulo.
Para o próprio Euclides Figueiredo, no entanto, "atirar toda a tropa para diante, sem mais considerações de ordem militar, seria correr uma aventura, contando simplesmente com a surpresa". Àquela altura - explicava - tratava-se de estabelecer uma situação transitória de defesa, dando tempo para que chegassem as forças aliadas, quando então a revolução partiria em ofensiva.
Essas forças aliadas, já se viu, nuca chegaram. Ou melhor, chegaram contra - provocando total reversão de planejamento tático e do próprio destino da luta. Em lugar de um avanço para o Distrito Federal - que os mais otimistas anteviam como pouco mais difícil que uma parada militar -, as tropas paulistas tiveram de ser dispostas em posição defensiva, procurando bloquear os caminhos que levavam à Capital.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo - Quinta-feira, 8/7/1982 - Jornal da Tarde, página 5.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

A luta - II








Os bares e cafés ainda fervilhavam, mas poucos notaram quando, por volta das 22 horas, começaram os primeiros movimentos de tropas. O que chamou atenção foi que, pouco depois, os alunos da Faculdade de Direito, no Largo São Francisco, começaram a circular com fuzis a tiracolo. Pela meia-noite, tropas da Força Pública ocupavam os Correios e, em seguida, a Telefônica. Foram os primeiros atos revolucionários ostensivos.
Mesmo os que tivessem lido atentamente os jornais daquele dia não encontrariam indícios de que a Revolução fosse tão iminente. O Estado de S. Paulo, por exemplo, dava este título ao seu principal noticiário político: "Um dia sem notícias". Informava: "Rio, 8. Mais árido ainda do que ontem se apresenta hoje o terreno onde o noticiarista tenta em vão obter umas respingas de informações políticas para oferecê-las à natural e ansiosa curiosidade do público. Hoje foi positivamente um dia sem notícias". O redator admitia, porém, que "proliferavam os boatos, pelos corredores do Ministério, pelas redações dos jornais, pelos cafés, pelos quartéis..."
O editorial abordava um tema econômico, chamando a atenção dos poderes competentes para o esvaziamento da importância do porto de Santos, e o noticiário local informava sobre uma reunião do secretariado de Pedro de Toledo e sua decisão de mandar cumprimentos ao ditador pela designação do general José Luís Pereira de Vasconcelos para o comando da 2ª Região Militar. Outra notícia local: o anúncio da inauguração do serviço de ônibus, de meia em meia hora, para o "vizinho município" de Santo Amaro.
No dia seguinte, sim: em manchete, O Estado (jornal) anunciava a revolução, informando, nas páginas internas, que "Está vitorioso, em todo o Estado, o movimento revolucionário de caráter constitucionalista". E nos subtítulos: "Pela manhã, já havia aderido todas as guarnições federais, inclusive Quitaúna - Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Santa Catarina integrados no movimento - As forças de Mato Grosso marcham para Bauru - O general Klinger chegará hoje de avião - A aclamação do dr. Pedro de Toledo presidente do Estado - Forte concentração de forças paulista em Cruzeiro".
Depois de recapitular as origens e os objetivos do movimento - "repor o Brasil, rapidamente, sob o domínio da lei" - e de traçar um breve perfil de seus principais comandantes militares (o general Isidoro Dias Lopes e o coronel Euclides Figueiredo), o jornal faz um balanço das adesões:
"(...) No Rio Grande do Sul e em São Paulo, a totalidade das guarnições federais, das polícias estaduais e do elemento civil. Em Mato Grosso, toda a tropa federal, parte da polícia e contingentes civis. No Rio, Paraná e Santa Catarina, apoiam o movimento importantes contingentes. A situação em Minas Gerais pode ser resumida no apoio de diversas guarnições e na solidariedade de todos os elementos do Partido Social Nacionalista. O presidente Olegário Maciel manifestava-se francamente partidário de uma solução amistosa, mas assegurou aos chefes constitucionalistas que em nenhuma hipótese os soldados mineiros atirariam sobre as forças paulistas."
Era isso, de fato, o que esperavam os líderes do movimento, mas nada de parecido aconteceu.
No Rio Grande do Sul, a reviravolta do interventor Flores da Cunha transformou em inimigos os contingentes que os paulistas consideravam como aliados. E a solidariedade gaúcha limitou-se, a partir de então, aos esforços que, sem tropas e sem armas, os líderes da Frente Única passaram a empreender, na tentativa de manter a palavra empenhada com São Paulo.
De Mato Grosso, contavam os paulistas com a ajuda de pelo menos 6 mil soldados, número assegurado pelo general Klinger nos encontros preparatórios do movimento.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, quinta-feira, 8/7/1982 - Jornal da Tarde - página 5.


sexta-feira, 25 de julho de 2014

A luta - I




"9 de julho de 1932. Dr. Francisco Campos, ministro da Justiça. Ciente da destituição do general Klinger do comando da Circunscrição de Mato Grosso, rogo a V. Excia. se digne comunicar ao eminente chefe do Governo Provisório que tomarei todas as medidas ao meu alcance para a manutenção da ordem (...) Cordiais saudações, (a) Pedro de Toledo".
"10 de julho de 1932. Dr. Getúlio Vargas, chefe do Governo Provisório. Esgotados todos os meios que ao meu alcance estiveram para evitar o movimento que acaba de verificar-se na guarnição desta Região, ao qual aderiu o povo paulista, não me foi possível caminhar ao revés dos sentimentos do meu Estado. Impossibilitado de continuar a cumprir o mandato que V. Excia. houve por bem confiar-me (...) venho renunciar ao cargo de interventor (...) (a) Pedro de Toledo".
Mais do que uma perfídia, presumível à primeira vista, a brusca mudança de posições manifestada pelo interventor Pedro de Toledo, nos telegramas que mandou ao Governo Provisório, indica que foi ele um dos últimos a saber de uma revolução em São Paulo, naquele dia 9.
E sua adesão nem foi tão rápida como pode parecer. Toledo voltava ao Palácio, vindo da Estação do Norte, onde fora despachar um emissário de Getúlio (o ministro Salgado Filho, a quem acabara de reafirmar sua lealdade à Ditadura). Estranhou ao encontrar as luzes acesas e todo o seu secretariado reunido.
Só então ficou sabendo que a revolução estava nas ruas, e pensou até em resistir, fiel às promessas que fizera de manter a ordem no Estado. Foi somente horas depois que, ante os enfáticos apelos de todos os seus auxiliares, acabou concordando em demitir-se da interventoria, para ser aclamado governador de São Paulo.
Também a população demorou a notar que havia um levante.
Era uma noite de sábado, e as ruas do centro estavam animadas, com aquele aspecto cosmopolita que tanto agradava aos paulistas, orgulhosos de sua metrópole de 1 milhão de habitantes. Nos cinemas lotados, alguns assustavam-se com O Vampiro de Dusseldorf, que estreava no Odeon, enquanto outros comoviam-se com Marlene Dietrich em O Expresso de Shangai, no Paramount. O Teatro Bela Vista apresentava uma companhia portuguesa, e prometia para breve a volta de Procópio Ferreira, com suas piadas sobre Getúlio que o público paulista considerava "impagáveis".

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, Quinta-feira, 8/7/1982 - Jornal da Tarde, página 5.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Personagens de 1932 - Coronel Euclides Figueiredo



Coronel Euclides Figueiredo

O coronel Euclides Figueiredo, pai do atual presidente, sempre viu com desconfiança a interferência de militares na política. Ele achava que, mesmo pretensamente transitória, a passagem de militares pelo poder sofria uma incontrolável tendência a prolongar-se indefinidamente.
Essa foi uma das razões que o levou a colocar-se contra a Revolução de 1930 - apoiada pelo tenentismo -, da mesma forma que fora contrário aos movimentos revolucionários de 1922 e 1924, que considerava de raízes essencialmente militares.
Preso em outubro de 1930, quando servia em Alegrete, Rio Grande do Sul, e libertado meses depois, quando a Revolução se sentia consolidada, Figueiredo procurou o ministro da Guerra, general Leite de Castro, pedindo-lhe que o reformasse, pois não estava disposto a servir ao Governo Provisório, ao qual atribuía propósitos de tornar-se definitivo.
Mesmo informado da posição de Figueiredo, o ministro negou-lhe a reforma, afirmando que o Exército não poderia prescindir de um oficial de seu valor.
Morava no Rio de Janeiro quando foi posto em contato com os líderes constitucionalistas, por meio de seu irmão Leopoldo, empresário em São Paulo e membro do Partido Democrático. Engajou-se de corpo e alma no movimento, para o qual procurou adesões nos meios militares do Distrito Federal.
No dia 9 de julho, surpreendido pela precipitação do levante, viajou às pressas para São Paulo, assumindo o comando militar até a chegada do general Klinger do Mato Grosso. Então, foi comandar as forças constitucionalistas no Vale do Paraíba, que resistiram, até os dias finais da luta, às tropas do Governo Provisório, reconhecidamente superiores em número e armamento.
O coronel Figueiredo foi, literalmente, o último a se entregar. A Revolução estava batida havia mais de dez dias quando o capturaram, na ilha de Santa Catarina, a bordo de um barco de pesca com o qual tencionava  chegar ao Rio Grande, onde acreditava ainda haver luta contra a Ditadura.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, Quinta-feira, 8/7/1932 - Jornal da Tarde, página 7.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Personagens de 1932 - Francisco de Mesquita



Francisco de Mesquita

Em 1926, um grupo de oposicionistas de São Paulo reúne-se no salão das Classes Laboriosas para lançar as bases de um novo partido. E, à medida que os oradores se sucedem, mais distante parece tornar-se a unidade de pensamento.
É quando, na plateia, um moço pede a palavra e inicia um discurso de improviso. O novo partido, afirma, não pode ser apenas um PRP honesto, não pode correr o risco de ser outro órgão a serviço das oligarquias; é preciso que seja um instrumento de construção da democracia, por meio do voto secreto e da Justiça Eleitoral. A argumentação, clara e objetiva, estende-se por mais de uma hora, e ao final o Partido Democrático tinha praticamente definido seu programa de ação.
O orador era Francisco Mesquita, que, encerrado o discurso, reassume a atitude discreta que lhe era característica.
Adepto fervoroso da Revolução de 1930, foi, talvez por isso mesmo, um dos primeiros a identificar o que considerava os desvios de seus objetivos. Membro do primeiro secretariado paulista constituído após a vitória revolucionária, não permaneceu no cargo mais do que alguns dias (logo o governo nomearia interventor o tenente  João Alberto).
O nome de Francisco Mesquita figura entre os signatários do documento que formalizou a aliança dos partidos paulistas (a Frente Única) e, pouco mais tarde, entre os fundadores do MMDC.
Iniciada a Revolução Constitucionalista, Francisco Mesquita prefere abdicar de sua posição de liderança, para lutar como simples soldado. Depois de submeter-se a uma rápida instrução militar no quartel de Quitaúna, incorpora-se ao 6º Regimento de Infantaria e segue para a frente de combate.
Transferido, dias mais tarde, para o Batalhão Piratininga (formado por voluntários), o combatente Chiquinho, como era chamado entre os colegas, é designado para as trincheiras de Vila Queimada, no Vale do Paraíba, uma das áreas mais fustigadas pela artilharia inimiga; lá, a 19 de agosto, acaba capturado em combate, num choque com o destacamento do então capitão Sizeno Sarmento. É mandado, então, para a Ilha Grande, onde ficaria preso até seguir para o exílio.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, Quinta-feira, 8/7/1932 - Jornal da Tarde, página 7.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Personagens de 1932 - Borges de Medeiros




Borges de Medeiros

Depois de governar o Rio Grande durante 25 anos ininterruptos, Borges de Medeiros, austero, solene e pobre, constituía-se num oráculo para os homens públicos de sua terra, até mesmo para os que não pertenciam ao seu partido, o Republicano.
Foi nessa condição que dera seu apoio aos constitucionalistas gaúchos, convencido de que Vargas já não tinha intenção alguma de cumprir os compromissos assumidos durante a Revolução, principalmente quanto à realização de eleições a curto prazo.
Irrompido o levante em São Paulo e conhecida a reviravolta do interventor Flores da Cunha, o velho caudilho teve, de início, um momento de hesitação. Tinha de optar entre dois valores que prezava sobre todos os demais: a ordem, que estava na base de sua formação positivista, e a honra, que o compelia a romper com a ordem para não faltar ao compromisso com os paulistas.
E foi para honrar a palavra empenhada que, afinal, saiu de Porto Alegre disfarçado, em companhia de Batista Luzardo, atravessando o Guaíba de barco, no meio da noite, e cavalgando horas seguidas rumo a Santa Maria. Lá, com o apoio de uns poucos combatentes e outros membros da Frente Única, pretendiam instalar um governo provisório em oposição a Flores e a Vargas. Mas foram interceptados, a caminho, por tropas leais à ditadura, e, dispersados, tiveram de refugiar-se em estâncias da região.
A perseguição continuou, visando, sobretudo, à captura de Borges, que se acabou entregando, após o tiroteio de três horas seguidas e depois de disparar o último cartucho que lhe restava.
Borges tinha, então, quase 70 anos. Getúlio quis bani-lo, e o próprio Flores insurgiu-se contra isso: "Não podemos esquecer que o Dr. Borges de Medeiros é um homem pobre. Não tem absolutamente recursos para viver no estrangeiro. Toda sua vida (...) protesta contra a ideia de pretender fazê-lo, na velhice, sustentar-se da caridade de amigos, longe da família e da Pátria".
Getúlio contentou-se, então, com o banimento interno, e o mandou para Recife.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo - Quinta-feira, 8/7/1932 - Jornal da Tarde, página 7.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Personagens de 1932 - Flores da Cunha




Flores da Cunha

"Às vezes, tinha vontade de atar a corda ao pescoço e vir entregar-me aos paulistas, para dizer-lhes que eles é que tinham razão". Essa retratação pública foi feita perante um admirado plenário, na Assembleia Constituinte de 1946, pelo general Flores da Cunha, interventor no Rio Grande do Sul em 1932 e um dos principais responsáveis pela derrota da Revolução Constitucionalista. Aliás, como ele mesmo reconhecia, em seu inesperado depoimento:
"(...) concorri, decisivamente, para que o grande movimento paulista fosse jugulado. Mandei ao Sr. Getúlio Vargas mais de 30 corpos que organizei para a defesa de seu governo e daquilo que ele chamava de ordem".
O estranho é que Flores da Cunha, embora colocado no governo gaúcho pelo próprio Getúlio, conspirava contra a Ditadura com os políticos da Frente Única, autorizando-os a transmitir aos paulistas o apoio do Rio Grande do Sul. A partir de determinado momento, porém, atormentado por dúvidas que nunca exteriorizou aos demais conspiradores, passou a manter o Governo Provisório informado de tudo que se passava.
Na fase de conspiração, chegou a consultar o pai dos tenentes Orlando e Henrique Geisel, da guarnição de Cachoeira, quanto à possível adesão de seus filhos a um movimento contra a Ditadura (o senhor Augusto Geisel respondeu-lhe que nunca trataria tal assunto com os filhos). Na mesma fase, Flores forneceu fuzis e munição para a preparação do levante no interior do Estado; depois, ao mudar de planos, mandou recolher as armas e prender as pessoas a quem as confiara.
Dúbio até as vésperas da Revolução, a ponto de desconcertar os constitucionalistas gaúchos que contavam com ele, acabou ordenando que marchassem contra os paulistas as tropas que prometera enviar para ajudá-los.
"Espero em Deus ainda hei de voltar a São Paulo, para visitar aquelas salas quadrangulares do velho Convento de São Francisco e dobrar os joelhos para penitenciar-me", diria ainda Flores em seu ato de contrição na Constituinte, 14 anos mais tarde.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, Quinta-feira, 8/7/1932 - Jornal da Tarde, página 7.


sexta-feira, 20 de junho de 2014

Personagens de 1932 - Pedro de Toledo



Pedro de Toledo

Ausente por muitos anos da vida política do Estado, equidistante dos partidos, o ex-embaixador Pedro de Toledo, nomeado interventor em São Paulo, julgava-se no dever de conciliar os paulistas com a Ditadura.
Por isso, foi mantido inteiramente à margem da conspiração constitucionalista e só soube da Revolução, naquele 9 de julho, quando as tropas já estavam nas ruas. Por lealdade ao Governo Provisório, que o colocara no cargo, pensou até em resistir, só não o fez  porque se convenceu, logo, da unanimidade de seus conterrâneos em torno do movimento. Acabou aceitando, então, converter-se de interventor em governador.
Se foi, literalmente, o último a aderir, Pedro de Toledo esteve, também, entre os últimos a aceitar a derrota. Quando a Força Pública já se rendera e as tropas comandadas pelo general Klinger estavam prestes a fazer o mesmo, o governador ainda estimulava  a resistência civil à capitulação, que afinal se revelaria inevitável. 
O inconformismo de Toledo transparece claramente no último manifesto divulgado pelo governo constitucionalista, com menções à "ausência dos companheiros de lutas cujas armas contra nós se voltaram, referindo-se aos oficiais da Força Pública que o afastaram do poder, no dia 2 de outubro.
Em seu lugar, assumiu o governo o coronel Herculano de Carvalho, numa atitude que atribuiria, em explicações posteriores, à intenção de tornar desnecessária a presença de tropas da Ditadura na Capital, conforme entendimento seu com Góis Monteiro.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, quinta-feira, 8/7/1932 - Jornal da Tarde, página 7.


sexta-feira, 13 de junho de 2014

Personagens de 1932 - General Isidoro Dias Lopes




General Isidoro Dias Lopes

Veterano das lutas dos primeiros anos da República no Rio Grande do Sul, o general reformado Isidoro Dias Lopes era dono de grande prestígio popular, em São Paulo, por sua ação no comando da Revolução de 1924, movimento que se encerrou 22 dias após ter sido iniciado, porque os rebeldes decidiram poupar a Capital do bombardeamento de que era ameaçada pelas forças governistas.
(A Revolução de 1924, precursora em seus objetivos da de 1930, pretendia depor o presidente Artur Bernardes, cuja gestão era considerada pelos revolucionários "uma continuação dos governos eivados de vícios que tem dirigido o Brasil nos últimos lustros". Os remanescentes do movimento, após a retirada, dariam origem à Coluna Prestes).
Em fins de 1930, o general Isidoro foi designado para o comando da 2ª Região Militar, cargo do qual seria afastado, meses depois, por seu envolvimento numa frustrada conspiração destinada a depor o interventor João Alberto.
Constituída a Frente Única paulista e lançadas as bases do movimento constitucionalista, foi ele o primeiro chefe militar a engajar-se na conspiração, dedicando-se, em seguida, a um intenso trabalho de arregimentação de adeptos nos meios militares de São Paulo e de outros Estados. Irrompido o levante, entregou o comando ao coronel Euclides Figueiredo, até a chegada do general Klinger, escolhido por ele para o comando geral das forças constitucionalistas.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo - Quinta - feira, 8/7/1932 - Jornal da Tarde, página 7.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Personagens de 1932 - João Alberto Lins



João Alberto Lins

Quando se iniciou a Revolução Constitucionalista, já fazia um ano que o tenente João Alberto Lins de Barros deixara de ser interventor em São Paulo. Ainda assim, poucos fatores contribuíram tanto para o levante como sua movimentada passagem pelo governo paulista. 
Apresentada por Getúlio como coisa transitória, a imposição de João Alberto, pernambucano de nascimento, foi recebida com protestos generalizados em São Paulo. Ele mesmo iria tentar desfazer o mal-estar, agindo politicamente, mas nunca chegou a ser bem-sucedido, nesse aspecto. Pelo contrário, ao converter o Estado em campo de ensaio da pregação tenentista, o interventor iria frequentemente chocar os indignados paulistas.
Logo de início, tentou uma desastrada reforma agrária, retalhando propriedades do governo na região de Itu e entregando-as a combatentes não regulares da Revolução de 1930. Sempre mostrando preocupação com as questões sociais, antecipou-se à própria legislação trabalhista de Vargas e decretou um aumento geral de salários na indústria. Em seguida, proibiu demissões de grevistas.
Depois, autorizou o PC a instalar sua sede em São Paulo e a fazer comícios quando bem entendesse. Nem por isso foi muito estimado pelos comunistas, que qualificavam suas atitudes de "tentativas de enganar as massas" e o acusavam de "apaniguar lacaios do imperialismo" (norte-americano e inglês).
E, apesar de seus esforços para defender os interesses de cafeicultores paulistas junto ao governo federal, nunca chegou a conquistar a confiança da opinião pública de São Paulo, que ao fim de algum tempo passou a mover-lhe oposição sistemática, exigindo que o governo fosse entregue a um "civil e paulista".
Exonerado, afinal, em julho de 1931, João Alberto ainda voltaria, em outras ocasiões, a influir na vida política de São Paulo, uma delas ao provocar a renúncia do interventor Laudo de Camargo.
Durante a Revolução Constitucionalista, comandou as tropas federais que enfrentaram os paulistas na região de Parati e Cunha.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo - Quinta-feira, 8/7/1932 - Jornal da Tarde, página 7.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Personagens de 1932 - General Bertoldo Klinger




General Bertoldo Klinger

Oficial de grande prestígio nos meios militares, de competência reconhecida até por seus adversários, o general Bertoldo Klinger, designado pelo general Isidoro Dias Lopes para o comando militar da Revolução Constitucionalista, teve um procedimento frequentemente desconcertante à frente do movimento.
Apontado como responsável pela precipitação do levante, com o explosivo documento com que questionou a escolha do novo ministro da Guerra, Klinger iria ter atitudes surpreendentes em várias outras ocasiões.
Foi uma surpresa, por exemplo - e nada agradável para os paulistas -, que ele tivesse chegado a São Paulo acompanhado de uns poucos oficiais e soldados, quando prometera trazer pelo menos seis mil homens da guarnição do Mato Grosso, da qual acabava de ser afastado. É que, também surpreendentemente, Klinger se submetera sem reação alguma à punição que lhe foi imposta, entregando o comando da tropa que lhe era obediente.
Algumas de suas iniciativas nunca chegaram a tornar-se públicas, como a proposta que apresentou ao ministro da Marinha, almirante Protógenes Guimarães, no dia 12 de agosto, quando os revolucionários paulistas ainda se sentiam em plenas condições de vencer. Segundo tal proposta, encaminhada a Protógenes por um emissário secreto, caberia ao almirante depor Getúlio, para depois ambos decidirem a quem entregar o governo até a realização de eleições.
Protógenes rejeitou a oferta (que seria depois denunciada por Getúlio como tentativa de promover a cizânia entre os que lhe eram leais). Mas foi por seu intermédio que, cerca de um mês depois, Klinger tomaria a iniciativa de propor um armistício à ditadura, sem consultar nem o governo de São Paulo nem os comandantes das várias frentes de luta, que só souberam de suas intenções quando ele já as havia comunicado ao inimigo.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo - Quinta - feira, 8 - 7 - 1982 - Jornal da Tarde - página 7.

sábado, 24 de maio de 2014

Personagens de 1932 - João Neves da Fontoura



JOÃO NEVES DA FONTOURA

Vitoriosa a Revolução de 1930, a bordo do trem que trazia seus chefes a São Paulo, a caminho do Catete, discutia-se a quem entregar o governo paulista. E só houve uma voz a defender a ideia de confiá-lo aos próprios paulistas: a de João Neves da Fontoura.
João Neves, que fora vice de Getúlio no governo do Rio Grande, iria ser voto vencido em várias outras ocasiões daí em diante, principalmente ao insistir para que o Governo Provisório cumprisse compromissos assumidos durante a campanha da Aliança Liberal.
Desligado do governo, nem por isso foi dos primeiros a aderir ao movimento constitucionalista, e, quando aderiu, nunca deixou de insistir em que só se cogitasse de luta armada depois de absolutamente esgotadas todas as alternativas.
Quando o levante se precipitou, entretanto, converteu-se num de seus mais eloquentes tribunos, sobretudo para cobrar de seus conterrâneos a adesão prometida a São Paulo. Já nos primeiros dias de luta, escrevia a Borges de Medeiros, falando do isolamento paulista: "Que quer o senhor que façam a guarnição do Rio e Minas, se o Rio Grande falha estrepitosamente e ainda se prepara para agredir São Paulo? Qual o desfecho? Não sei. Se o Rio Grande agir sem demora, a partida ainda estará ganha, e bem ganha. Senão, teremos a guerra civil (...) E já pensou o senhor no que será o dia de amanhã, se São Paulo for vencido pelas armas?"

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, quinta-feira, 8-7-1982 - Jornal da Tarde, página 7.

sábado, 17 de maio de 2014

Personagens de 1932 - General Góis Monteiro



GENERAL GÓIS MONTEIRO 

O general Góis Monteiro, comandante chefe das forças leais ao Governo Provisório, conduziu a campanha contra o Exército constitucionalista com eficiência e habilidade, esperando que o correr do tempo acabasse por minar a resistência das isoladas tropas paulistas.
Habilidade, aliás, nunca lhe faltou. Designado para servir no Rio Grande do Sul em 1929, como pessoa de absoluta confiança do governo Washington Luís, ele acabou aceitando, pouco depois, o comando militar do movimento revolucionário que o afastou do poder.
Vitoriosa a Revolução de 1930, Góis não encontrou dificuldade para entender-se com os tenentes, com os quais jamais tivera afinidades políticas (ao contrário: chefe do Estado-Maior do general Álvaro Mariante, fora um perseguidor tenaz da coluna Prestes). E tornou-se, até, membro assíduo do Clube 3 de Outubro (organização basicamente tenentista, destinada a sustentar a continuidade revolucionária).
Também em São Paulo, Góis Monteiro deu seguidas demonstrações de sua versatilidade. Um exemplo: em maio de 1931, designado comandante da 2ª Região Militar em substituição ao general Isidoro Dias Lopes, afastado depois de uma frustrada conspiração contra o interventor  João Alberto, o general Góis Monteiro não hesitou em comparecer a uma homenagem ao mesmo Isidoro, promovida pela Liga de Defesa Paulista, no Teatro Municipal.
Ainda em São Paulo, chegou a ter frequentes contatos com dirigentes constitucionalistas, atitude que atribuiria, mais tarde, a propósitos pacificadores que o levavam a entender-se com os dois lados.
Testemunhos de contemporâneos seus sustentam que, caso convidado, Góis não teria hesitado em assumir o comando do movimento, desde que o fato pudesse representar, para ele, a perspectiva de chegar ao poder. Como isso não ocorreu, ficou com a Ditadura, à qual ainda prestaria serviços por muito tempo. Rigorosamente, até 1945, quando ajudou a afastar Vargas do poder.

Fonte: O ESTADO DE S. PAULO, Quinta-feira, 8/7/1982, Jornal da Tarde, pág. 7.

domingo, 4 de maio de 2014

Personagens de 1932 - Júlio de Mesquita Filho




JÚLIO DE MESQUITA FILHO

"Nosso objetivo era impor aquilo que a Revolução de 1930 havia prometido e não realizara. Isto é, a democratização da República, a implantação, no País, de um regime liberal". 
A afirmação é de Júlio de Mesquita Filho, que, ao se lançar à articulação do movimento constitucionalista, procurava interpretar o sentimento que foi tomando conta da comunidade de seu Estado, à medida que se definiam os rumos do Governo Provisório.
Rumos que, no julgamento da grande maioria dos paulistas, se afastavam dia a dia dos compromissos revolucionários de moralizar o processo eleitoral, acabando com o coronelismo e instituindo o voto universal e secreto. rumos, ainda, que aos olhos da opinião pública de São Paulo iam assumindo clara impressão de desordem.
A par disso, evidenciava-se a deliberação do Governo Provisório de alijar os dirigentes paulistas do processo político, tanto ao nível local como no plano federal.
Foi esse quadro todo que levou Júlio de Mesquita Filho a se empenhar, de início, numa antes inimaginável aliança entre o Partido Democrático e o Republicano. O passo seguinte seria articular a sustentação militar ao movimento, tarefa para a qual procurou a colaboração  do general Isidoro Dias Lopes, seu amigo pessoal. Depois, tratou de obter ajuda de fora do Estado, principalmente em contatos com Raul Pilla, do Partido Libertador, e com o republicano João Neves, ambos do Rio Grande do Sul. Ele sabia que seria inviável o sucesso de uma luta armada contra a Ditadura sem o apoio gaúcho, afinal assegurado pelo próprio interventor Flores da Cunha, mas que no último momento faltaria à palavra.
Irrompido o levante, partiu para a frente de combate do Vale do Paraíba, onde permaneceu, com o coronel Euclides Figueiredo, até os dias finais da Revolução. Informado de que se iniciavam negociações para a rendição, voltou às pressas para a Capital, a fim de tentar impedir um armistício em condições humilhantes para São Paulo. Era tarde: a Força Pública estava firmando o acordo com a Ditadura, e emissários do general Klinger preparavam-se  para fazer o mesmo.
A exemplo dos demais líderes do movimento, foi mandado para a Casa de Detenção, no Rio de Janeiro, e daí para o exílio, que passou em Estoril, Portugal. 

Fonte: O Estado de S. Paulo - Quinta-feira, 8-7-1982 - Jornal da Tarde, p. 7.

sábado, 26 de abril de 2014

Relatos da História XV

Vargas, passadas algumas semanas do início do movimento paulista, procurou entrar em acordo com os líderes constitucionalistas, estabelecendo como condições básicas para o término do conflito fratricida o não aproveitamento dos líderes revolucionários em futuros governos e a deposição das armas. Este acordo não ia de encontro aos interesses de São Paulo, que desejava ver o seu movimento reconhecido e a formação de uma Junta Governativa composta por cinco membros: um do Rio Grande do Sul, em de São Paulo, um do Distrito Federal, um de Minas Gerais e um do Norte. Sem nenhum acordo a guerra prolongou-se por quase três meses, fazendo 15.000 vítimas entre mortos e feridos.
Em 1º de outubro de 1932, enquanto o general Bertoldo Klinger entrava em negociações de paz com o general Góis Monteiro, a Força Pública de São Paulo firmou um acordo de paz em separado com o Governo Provisório. muitos revolucionários consideraram a atitude do coronel Herculano de Carvalho, na época comandante da Força Pública, um ato de traição, que levou à capitulação das forças constitucionalistas, em 2 de outubro de 1932. No entanto, as causas da derrota dos paulistas vão além deste ato. Leôncio Basbaum, em seu livro História Sincera da República, divide-as em três categorias: políticas, militares e psicológicas.
Politicamente, os paulistas esperavam contar com o apoio do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Mato Grosso, mas este apoio não passou das palavras e de uma neutralidade simpática. A propaganda separatista, lançada por alguns elementos do movimento constitucionalistas, colaborou para que os outros estados duvidassem dos propósitos dos paulistas. Quanto às causas militares do fracasso paulista, podem-se citar a falta de material bélico e o despreparo dos soldados constitucionalistas. Do ponto de vista psicológico, os paulistas tinham todas as condições para vencer, só que não esperavam a luta armada. Acreditavam que o Governo Provisório entregaria o poder sem resistência. Não era apenas o povo que acreditava nesse engodo, os próprios chefes constitucionalistas também pensavam desta forma. Os generais Isidoro Dias Lopes e Bertoldo Klinger chegaram a enviar, no dia 3 de agosto, um telegrama a Vargas, ordenando-lhe que entregasse o poder à Junta Governativa formada pelos generais Tasso Fragoso e Mena Barreto e pelo almirante Isaías de Noronha. Mais ingênuo foi o segundo telegrama: "Generais Tasso Fragoso, Mena Barreto e Isaías de Noronha - Rio - Urgente - Em nome da suprema direção movimento constitucionalista, solicitamos vossência recebam do Dr. Getúlio Vargas o governo, conforme apelo ao mesmo dirigido e do qual recebereis cópia. São Paulo, 3/8/932. (a) General Isidoro Dias Lopes, General Bertoldo Klinger".
Ao assinarem, em Cruzeiro, a convenção militar que colocou um fim nas hostilidades, iniciou-se a obra de reconstrução e reconciliação. Vargas procurou seguir uma política de conciliação em relação a São Paulo, chegou a resgatar, através do Banco do Brasil, os bônus de guerra emitidos pelos bancos deste estado e, em meados de 1933, devolveu-lhe o direito de governar-se, deixando de nomear interventores da corrente tenentista para o governo estadual. Quanto aos líderes do movimento constitucionalista, ou foram presos, ou deportados ou tiveram seus direitos políticos suspensos por três anos.
Em nível nacional, Vargas retomou o projeto da reconstitucionalização do país, confirmando a data de 3 de maio de 1933 para as eleições à Assembleia Nacional Constituinte e nomeou a Comissão Constitucional, encarregada de elaborar um anteprojeto de Constituição a ser apresentado à Assembleia.
O confronto entre "tenentes" e oligarquias saiu das ruas e ganhou as salas da Assembleia Nacional Constituinte. O projeto federalista, defendido pelas oligarquias dos estados do Centro-Sul (RS, MG, SP e BA), saiu vitorioso, já que elas tinham a maioria dos representantes na Assembleia. No entanto, a teses centralistas não foram excluídas; em muitos casos os próprios federalistas concordaram com a necessidade de o Estado intervir na ordem econômica e social.
Se a guerra foi favorável às oligarquias, já não se pode dizer o mesmo em relação aos "tenentes", que saíram enfraquecidos, além de perderem posições dentro do próprio governo. "Sem base popular, destituído de maior coesão, atingido nos setores em que poderia encontrar apoio, o tenentismo desaparece como força autônoma. Individualmente, com raras exceções, os "tenentes" são atraídos para a órbita do poder central - onde sua ação e sua influência ideológica tem papel sifnificativo, mas subordinado - ou se dividem em organizações situadas politicamente em posições opostas, como é o caso da Aliança Nacional Libertadora e da Ação Integralista". (B. Fausto).

Fonte: PEREIRA, Marcos Aurélio. Revolução Constitucionalista. Editora do Brasil S/A. 1989.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Relatos da História XIV


A mobilização popular deu-se em virtude da intensa propaganda. Não faltaram slogans como: São Paulo conquistado, São Paulo dominado por gente de fora, Convocação da Constituinte, tudo pela Constituição etc. Durante a batalha criou-se um Departamento de Publicidade, cuja responsabilidade era transmitir aos jornais e rádios informações das operações no front e censurar as notícias colhidas pela própria imprensa.

Fonte: PEREIRA, Marcos Aurélio. Revolução Constitucionalista. Editora do Brasil S/A. 1989.

sábado, 1 de março de 2014

Relatos da História XIII

Num ambiente agitado, onde a palavra de ordem era a luta pela convocação de uma Assembleia Constituinte, os comícios e as passeatas sucediam-se, sobretudo nos meios estudantis. Quando, na noite do dia 23 de maio, o interventor Pedro de Toledo anunciou o seu secretariado formado por democráticos e perrepistas, dando um golpe nas pretensões tenentistas em São Paulo, populares festejaram com grande entusiasmo. Escreveu mais tarde Euclides Figueiredo: "Não há descrição possível para o delírio com que o povo acolheu a magna resolução; as manifestações populares prolongaram-se noite adentro na capital paulista."
Foi justamente no prolongamento desta festa que ocorreu uma série de incidentes, entre eles a depredação dos jornais A Razão e Correio da Tarde, ambos de tendência tenentista e favoráveis a Vargas. O entusiasmo popular fez suas vítimas. Após o empastelamento dos jornais, a multidão, pela rua Barão de Itapetininga, alcança a Praça da República, onde decide atacar a sede da Legião Revolucionária, transformada em Partido Popular Paulista, chefiados por Miguel Costa. O choque entre os membros do Partido Popular e a multidão eufórica resultou na morte dos estudantes Cláudio Bueno Miragaia, Mário Martins de Almeida, Dráusio Marcondes de Souza e Américo Camargo de Andrade.
As iniciais dos nomes dos estudantes mortos deu origem a uma organização paramilitar secreta e civil - o M.M.D.C., que unificou os diversos grupos revolucionários paulistas e desempenhou ativo papel durante os combates. Integrado por centenas de técnicos, o M.M.D.C. - o Mata Mineiro Degola Carioca - ocupou-se da direção do abastecimento, saúde, correio militar, propaganda, intendência, mobilização e serviços auxiliares.
As mulheres também tiveram sua participação nesta guerra. Em seu livro A Revolução de 32, Hernani Donato arrola a contribuição da mulher paulista: - 72.000 mulheres trabalharam como voluntárias somente nas oficinas de costura; - tais oficinas produziram, em 20 dias, 60.000 fardamentos. Até o último dia de setembro, 450.000; - damas da alta sociedade e proletárias uniram-se em salas de trabalho e em enfermarias para confeccionar fardamento, agasalhos, preparar material curativo e assistencial; - por toda parte abriram-se as Casas do Soldado, confiadas a grupos femininos locais. Ali eram recebidos, alimentados, tratados e assistidos os soldados em trânsito, em licença, em convalescença ou desmobilizados; - os grupos assistenciais integrados por mulheres procuravam e atendiam as famílias dos soldados combatentes em todas as suas necessidades; - elas encarregaram-se da propaganda das Campanhas do Ouro para o bem de São Paulo; - e mesmo, não oficialmente, integraram grupos secretos que tricotavam, costuravam ou adquiriam saias e peças mais íntimas do vestuário feminino, remetendo-as, com não muita discrição, aos rapazes válidos e em idade guerreira que não se decidiam a procurar os postos de alistamento.

Fonte: PEREIRA, Marcos Aurélio. Revolução Constitucionalista. Editora do Brasil S/A. 1989.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Relatos da História XII

Da mesma forma pode-se perguntar: Quem empunhou as armas na luta a favor da constitucionalização? Pela autonomia política de São Paulo? Quem cozinhava para os soldados? Confeccionava o fardamento? Quem entregou os seus filhos à luta?
Com o empastelamento do jornal Diário Nacional, em 7 de abril de 1932, e a prisão de alguns membros do PD, chegou-se a um rompimento político entre os democráticos e o interventor João Alberto. Em manifesto denunciando as arbitrariedades cometidas com o povo de São Paulo, os democráticos iniciaram a campanha em prol da reconstitucionalização do país e, por extensão, da luta pela reconquista da autonomia do estado de São Paulo e dos postos políticos de que foram preteridos. No mês de maio, este movimento encontrava apoio em diversos setores da sociedade, como o Instituto de Engenharia de São Paulo, a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, o Instituto da Ordem dos Advogados de São Paulo e o jornal O Estado de S. Paulo. Em 19 de maio, autonomistas militares anunciaram a fundação da Liga de Defesa Paulista, cujo objetivo era lutar pela preservação da autonomia de São Paulo.

Fonte: PEREIRA, Marcos Aurélio. Revolução Constitucionalista. Editora do Brasil S.A. 1989.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Relatos da História XI

O comando supremo das forças constitucionalistas estava nas mãos do general Bertoldo Klinger, que colocou o seu Quartel-General na capital paulista e concentrou as tropas em duas frentes; uma, a 2ª Divisão de Infantaria de Operações, sob o comando do coronel Euclides Figueiredo, estava concentrada no vale do Paraíba, enquanto a outra estava na fronteira São Paulo-Paraná, dividida em dois núcleos: o do Baixo Paranapanema, sob o comando do coronel reformado Pedro Dias de Campos, e o de Itararé, sob o comando do coronel Brasílio Taborda. Enquanto seus oficiais ocupavam-se da elaboração dos planos de batalha, o general Klinger procurava atender às necessidades logísticas das forças constitucionalistas, numa política de "despir um santo para vestir outro".
Isolado, sem apoio de outros estados, com os seus portos fechados, desde o dia 11 de julho, pelas forças legalistas e sem o reconhecimento do estado de beligerância por outras nações, São Paulo precisou adaptar o seu parque industrial às novas necessidades - produção de material bélico. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), sob a presidência de Roberto Simonsen, mobilizou as indústrias paulistas na produção de capacetes, armas, munições, carros de combate, a fim de atender às tropas paulistas. Indústrias como a Fábrica Nacional de Cartuchos e Munições, do Grupo Matarazzo, seguida pelos Instituto de Engenharia, Instituto de Tecnologia, Companhia Paulista de Estrada de Ferro e todas as oficinas em condições de adaptação à indústria de armamentos foram de grande contribuição à causa paulista. Todo o esforço das indústrias paulistas materializou-se, no início de agosto, numa produção diária de 70.000 cartuchos de munição de infantaria, 4.000 granadas de mão, além de granadas de artilharia, bombas de aviação, máscaras de gás e carros de assalto.
Se faltava material bélico, não faltavam homens para a luta. No início da guerra, as forças constitucionalistas contavam com um contingente militar de, aproximadamente, 7.000 soldados do Exército da 2ª Região Militar, pouco mais de 12.000 reservistas de primeira categoria e com 8.000 homens da Força Pública do Estado. Em resposta às intensas propagandas cívicas, organizadas pelo M.M.D.C., populares inscreveram-se como voluntários, engrossando as fileiras constitucionalistas, que chegaram a contar com 20.000 homens em armas. Nem todos os voluntários puderam ser aproveitados, muitos nem sabiam manejar um fuzil e, além do mais, faltava material bélico.
Nem todos os esforços conseguiram garantir a São Paulo os recursos necessários a sua continuidade na luta que empreendera. Um exemplo da inferioridade material e do desespero dos constitucionalistas foi a utilização das "matracas". Inventada por engenheiros paulistas, as "matracas" consistiam em uma prancheta de madeira com uma lâmina de aço e roda dentada, que produzia um som semelhante ao de um metralhadora.
Não pensem que a situação no exército legalista era diferente. Embora contassem com maiores recursos, escreveu S. Hilton que, diante dos estoques insuficientes, "os quartéis-generais, enquanto pressionavam o Rio de Janeiro, só podiam instar as tropas a serem cuidadosas em não gastar munição inutilmente".

Fonte: PEREIRA, Marcos Aurélio. Revolução Constitucionalista. Editora do Brasil S.A. 1989.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Relatos da História X

Os paulistas contavam com uma pequena esquadrilha: dois Potez, dois Waco e um pequeno número de aviões de turismo, mas faltavam os pilotos. No decurso da guerra a esquadrilha foi acrescida de aviões trazidos das forças legalistas por pilotos desertores. Só com a chegada destes pilotos os constitucionalistas puderam organizar a sua esquadrilha - Unidades Aéreas Constitucionalistas (U.A.C.). 
As funções destas unidades resumiam-se ao reconhecimento das posições das forças inimigas e à propaganda da causa constitucionalista, jogando panfletos e boletins sobre as cidades e posições inimigas. Segundo Leôncio Basbaum, "somente uns quatro chegaram a entrar em ação e destes somente a metade chegou ao final da luta. Os outros, ou foram destruídos pelas forças inimigas ou acidentados antes de levantar vôo".

Fonte: PEREIRA, Marcos Aurélio. Revolução Constitucionalista. Editora do Brasil S/A. 1989.