Borges de Medeiros
Depois de governar o Rio Grande durante 25 anos ininterruptos, Borges de Medeiros, austero, solene e pobre, constituía-se num oráculo para os homens públicos de sua terra, até mesmo para os que não pertenciam ao seu partido, o Republicano.
Foi nessa condição que dera seu apoio aos constitucionalistas gaúchos, convencido de que Vargas já não tinha intenção alguma de cumprir os compromissos assumidos durante a Revolução, principalmente quanto à realização de eleições a curto prazo.
Irrompido o levante em São Paulo e conhecida a reviravolta do interventor Flores da Cunha, o velho caudilho teve, de início, um momento de hesitação. Tinha de optar entre dois valores que prezava sobre todos os demais: a ordem, que estava na base de sua formação positivista, e a honra, que o compelia a romper com a ordem para não faltar ao compromisso com os paulistas.
E foi para honrar a palavra empenhada que, afinal, saiu de Porto Alegre disfarçado, em companhia de Batista Luzardo, atravessando o Guaíba de barco, no meio da noite, e cavalgando horas seguidas rumo a Santa Maria. Lá, com o apoio de uns poucos combatentes e outros membros da Frente Única, pretendiam instalar um governo provisório em oposição a Flores e a Vargas. Mas foram interceptados, a caminho, por tropas leais à ditadura, e, dispersados, tiveram de refugiar-se em estâncias da região.
A perseguição continuou, visando, sobretudo, à captura de Borges, que se acabou entregando, após o tiroteio de três horas seguidas e depois de disparar o último cartucho que lhe restava.
Borges tinha, então, quase 70 anos. Getúlio quis bani-lo, e o próprio Flores insurgiu-se contra isso: "Não podemos esquecer que o Dr. Borges de Medeiros é um homem pobre. Não tem absolutamente recursos para viver no estrangeiro. Toda sua vida (...) protesta contra a ideia de pretender fazê-lo, na velhice, sustentar-se da caridade de amigos, longe da família e da Pátria".
Getúlio contentou-se, então, com o banimento interno, e o mandou para Recife.
Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo - Quinta-feira, 8/7/1932 - Jornal da Tarde, página 7.
Nenhum comentário:
Postar um comentário