Vargas, passadas algumas semanas do início do movimento paulista, procurou entrar em acordo com os líderes constitucionalistas, estabelecendo como condições básicas para o término do conflito fratricida o não aproveitamento dos líderes revolucionários em futuros governos e a deposição das armas. Este acordo não ia de encontro aos interesses de São Paulo, que desejava ver o seu movimento reconhecido e a formação de uma Junta Governativa composta por cinco membros: um do Rio Grande do Sul, em de São Paulo, um do Distrito Federal, um de Minas Gerais e um do Norte. Sem nenhum acordo a guerra prolongou-se por quase três meses, fazendo 15.000 vítimas entre mortos e feridos.
Em 1º de outubro de 1932, enquanto o general Bertoldo Klinger entrava em negociações de paz com o general Góis Monteiro, a Força Pública de São Paulo firmou um acordo de paz em separado com o Governo Provisório. muitos revolucionários consideraram a atitude do coronel Herculano de Carvalho, na época comandante da Força Pública, um ato de traição, que levou à capitulação das forças constitucionalistas, em 2 de outubro de 1932. No entanto, as causas da derrota dos paulistas vão além deste ato. Leôncio Basbaum, em seu livro História Sincera da República, divide-as em três categorias: políticas, militares e psicológicas.
Politicamente, os paulistas esperavam contar com o apoio do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Mato Grosso, mas este apoio não passou das palavras e de uma neutralidade simpática. A propaganda separatista, lançada por alguns elementos do movimento constitucionalistas, colaborou para que os outros estados duvidassem dos propósitos dos paulistas. Quanto às causas militares do fracasso paulista, podem-se citar a falta de material bélico e o despreparo dos soldados constitucionalistas. Do ponto de vista psicológico, os paulistas tinham todas as condições para vencer, só que não esperavam a luta armada. Acreditavam que o Governo Provisório entregaria o poder sem resistência. Não era apenas o povo que acreditava nesse engodo, os próprios chefes constitucionalistas também pensavam desta forma. Os generais Isidoro Dias Lopes e Bertoldo Klinger chegaram a enviar, no dia 3 de agosto, um telegrama a Vargas, ordenando-lhe que entregasse o poder à Junta Governativa formada pelos generais Tasso Fragoso e Mena Barreto e pelo almirante Isaías de Noronha. Mais ingênuo foi o segundo telegrama: "Generais Tasso Fragoso, Mena Barreto e Isaías de Noronha - Rio - Urgente - Em nome da suprema direção movimento constitucionalista, solicitamos vossência recebam do Dr. Getúlio Vargas o governo, conforme apelo ao mesmo dirigido e do qual recebereis cópia. São Paulo, 3/8/932. (a) General Isidoro Dias Lopes, General Bertoldo Klinger".
Ao assinarem, em Cruzeiro, a convenção militar que colocou um fim nas hostilidades, iniciou-se a obra de reconstrução e reconciliação. Vargas procurou seguir uma política de conciliação em relação a São Paulo, chegou a resgatar, através do Banco do Brasil, os bônus de guerra emitidos pelos bancos deste estado e, em meados de 1933, devolveu-lhe o direito de governar-se, deixando de nomear interventores da corrente tenentista para o governo estadual. Quanto aos líderes do movimento constitucionalista, ou foram presos, ou deportados ou tiveram seus direitos políticos suspensos por três anos.
Em nível nacional, Vargas retomou o projeto da reconstitucionalização do país, confirmando a data de 3 de maio de 1933 para as eleições à Assembleia Nacional Constituinte e nomeou a Comissão Constitucional, encarregada de elaborar um anteprojeto de Constituição a ser apresentado à Assembleia.
O confronto entre "tenentes" e oligarquias saiu das ruas e ganhou as salas da Assembleia Nacional Constituinte. O projeto federalista, defendido pelas oligarquias dos estados do Centro-Sul (RS, MG, SP e BA), saiu vitorioso, já que elas tinham a maioria dos representantes na Assembleia. No entanto, a teses centralistas não foram excluídas; em muitos casos os próprios federalistas concordaram com a necessidade de o Estado intervir na ordem econômica e social.
Se a guerra foi favorável às oligarquias, já não se pode dizer o mesmo em relação aos "tenentes", que saíram enfraquecidos, além de perderem posições dentro do próprio governo. "Sem base popular, destituído de maior coesão, atingido nos setores em que poderia encontrar apoio, o tenentismo desaparece como força autônoma. Individualmente, com raras exceções, os "tenentes" são atraídos para a órbita do poder central - onde sua ação e sua influência ideológica tem papel sifnificativo, mas subordinado - ou se dividem em organizações situadas politicamente em posições opostas, como é o caso da Aliança Nacional Libertadora e da Ação Integralista". (B. Fausto).
Fonte: PEREIRA, Marcos Aurélio. Revolução Constitucionalista. Editora do Brasil S/A. 1989.
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