"9 de julho de 1932. Dr. Francisco Campos, ministro da Justiça. Ciente da destituição do general Klinger do comando da Circunscrição de Mato Grosso, rogo a V. Excia. se digne comunicar ao eminente chefe do Governo Provisório que tomarei todas as medidas ao meu alcance para a manutenção da ordem (...) Cordiais saudações, (a) Pedro de Toledo".
"10 de julho de 1932. Dr. Getúlio Vargas, chefe do Governo Provisório. Esgotados todos os meios que ao meu alcance estiveram para evitar o movimento que acaba de verificar-se na guarnição desta Região, ao qual aderiu o povo paulista, não me foi possível caminhar ao revés dos sentimentos do meu Estado. Impossibilitado de continuar a cumprir o mandato que V. Excia. houve por bem confiar-me (...) venho renunciar ao cargo de interventor (...) (a) Pedro de Toledo".
Mais do que uma perfídia, presumível à primeira vista, a brusca mudança de posições manifestada pelo interventor Pedro de Toledo, nos telegramas que mandou ao Governo Provisório, indica que foi ele um dos últimos a saber de uma revolução em São Paulo, naquele dia 9.
E sua adesão nem foi tão rápida como pode parecer. Toledo voltava ao Palácio, vindo da Estação do Norte, onde fora despachar um emissário de Getúlio (o ministro Salgado Filho, a quem acabara de reafirmar sua lealdade à Ditadura). Estranhou ao encontrar as luzes acesas e todo o seu secretariado reunido.
Só então ficou sabendo que a revolução estava nas ruas, e pensou até em resistir, fiel às promessas que fizera de manter a ordem no Estado. Foi somente horas depois que, ante os enfáticos apelos de todos os seus auxiliares, acabou concordando em demitir-se da interventoria, para ser aclamado governador de São Paulo.
Também a população demorou a notar que havia um levante.
Era uma noite de sábado, e as ruas do centro estavam animadas, com aquele aspecto cosmopolita que tanto agradava aos paulistas, orgulhosos de sua metrópole de 1 milhão de habitantes. Nos cinemas lotados, alguns assustavam-se com O Vampiro de Dusseldorf, que estreava no Odeon, enquanto outros comoviam-se com Marlene Dietrich em O Expresso de Shangai, no Paramount. O Teatro Bela Vista apresentava uma companhia portuguesa, e prometia para breve a volta de Procópio Ferreira, com suas piadas sobre Getúlio que o público paulista considerava "impagáveis".
Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, Quinta-feira, 8/7/1982 - Jornal da Tarde, página 5.
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