Destituído de seu comando, porém, Klinger não conseguiu reunir mais que seus ajudantes de ordem e uns escassos soldados, que com ele chegaram a São Paulo no dia 12. "Em vez de termos desse aliado a cooperação com que contávamos, tivemos de mandar forças para abafar, lá, a contra-revolução", comentaria tempos depois o general Euclides Figueiredo. Mas consolava-se: "É verdade que não tivemos tropas desse Estado lutando contra nós".
No Rio, com a precipitação do levante, as forças leais ao Governo Provisório puderam antecipar-se e neutralizar facilmente as eventuais tentativas de adesão ao movimento. O apoio de contingentes do Paraná e de Santa Catarina pouco influiria no destino da luta, mas, de qualquer modo, era em alta escala dependente da posição gaúcha.
Quanto a Minas Gerais, havia quem (como o Coronel Euclides) atribuísse ao velho governador Olegário Maciel certa simpatia pela causa paulista. Ocorre, porém, que os principais constitucionalistas mineiros - Artur Bernardes, Mário Brant, Djalma Pinheiro Chagas - faziam oposição ao seu governo e, depois de alguma hesitação, Maciel acabou ficando com a Ditadura. Já no dia 10 a Força Pública mineira desloca-se para o Túnel da Mantiqueira, na região da divisa entre os dois Estados, onde seriam travados alguns dos mais encarniçados combates de toda a campanha.
Para completar o quadro, a Marinha de Guerra bloqueou o porto de Santos, impossibilitando, desde logo, o desembarque de armas e munições, de cuja falta as forças paulistas iriam ressentir-se dramaticamente ao fim de alguns dias de luta. (A Marinha facilitaria, posteriormente, o desembarque de tropas da Ditadura no Litoral Norte e na região de Parati. Essas tropas bloquearam a coluna paulista que se preparava para avançar para o Rio, a partir da ocupação de Barra do Piraí).
Mas os chefes revolucionários ainda não avaliaram até que ponto estavam isolados e continuavam contando com os supostos aliados. Por designação do general Isidoro, o coronel Euclides assumira o comando do movimento, enquanto não chegasse o general Klinger. No dia 12, finalmente, ele desembarca na Estação da Luz, e Menotti del Picchia assim descreve a cena:
"Na estação, o doutor Ibrahim Nobre, que se tornara o tribuno popular da Revolução, pronunciou um discurso cuja forma alegórica e rebuscada, muito ao gosto do povo e ao sabor do momento, denuncia o estado de exaltação coletiva. O general Klinger respondeu com a famosa frase: "Desembainho a espada em continência à lei", marcando, assim, o sentido nacional e constitucionalista do movimento".
"O trajeto da estação ao Quartel-general foi uma apoteose. A multidão acompanhou delirante o novo paladino da causa que São Paulo abraçara. Para dar marcialidade ao espetáculo, o general Klinger desceu do auto oficial, onde vinha rodeado por vários membros do governo, e montou num cavalo cedido por um dos cavalarianos de sua guarda (...)"
Apesar do aspecto triunfal da recepção, porém, o movimento estava apenas começando. E perdendo momentos irrecuperáveis, segundo a opinião de muitos de seus militares, pois, em três dias, não avançara um passo além da Capital.
Nesse mesmo dia, Euclides Figueiredo passa o comando geral a Klinger e vai comandar o avanço rumo ao Vale do Paraíba, em direção ao Rio. Mas detém-se nos limites do Estado, instalando seu quartel-general em Cruzeiro.
Se tivesse prosseguido rumo ao Rio, segundo o insuspeito depoimento de Benjamim Vargas ao historiador Hélio Silva, "seria recebido com flores, porque as guarnições militares e a própria população eram simpáticas à causa constitucionalista". José Américo de Almeida, à época ministro da Viação de Getúlio, entendia que, se Figueiredo tivesse prosseguido, acabaria dominando a situação, pois iria encontrar Góis Monteiro confuso e indeciso. Ou ansioso para aderir, na opinião de Hélio Silva, que em suas pesquisas identificou indícios claros de que o general não se recusaria a aceitar o comando do levante, se lhe fosse oferecida a oportunidade, pois andava seduzido pela ideia de assumir o poder.
Também o general Brasílio Taborda, que comandou a Frente Sul das forças constitucionalistas, era de opinião, por razões táticas, de que uma ofensiva fulminante sobre o Rio teria decidido a sorte da luta em favor de São Paulo.
Para o próprio Euclides Figueiredo, no entanto, "atirar toda a tropa para diante, sem mais considerações de ordem militar, seria correr uma aventura, contando simplesmente com a surpresa". Àquela altura - explicava - tratava-se de estabelecer uma situação transitória de defesa, dando tempo para que chegassem as forças aliadas, quando então a revolução partiria em ofensiva.
Essas forças aliadas, já se viu, nuca chegaram. Ou melhor, chegaram contra - provocando total reversão de planejamento tático e do próprio destino da luta. Em lugar de um avanço para o Distrito Federal - que os mais otimistas anteviam como pouco mais difícil que uma parada militar -, as tropas paulistas tiveram de ser dispostas em posição defensiva, procurando bloquear os caminhos que levavam à Capital.
Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo - Quinta-feira, 8/7/1982 - Jornal da Tarde, página 5.
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