As unidades mandadas de início para a região de Itararé, supostamente para formar alas à passagem das tropas gaúchas, viram-se de repente na situação de ter de enfrentá-las, em condições de incomparável inferioridade numérica e de armamentos. E só depois de muito reforçadas é que puderam tentar deter o avanço adversário, comandado pelo general Valdomiro Lima. (A disparidade de forças, na Frente Sul, manteve-se ao longo de toda a campanha, mas ainda assim as tropas enviadas por Flores da Cunha nunca conseguiram avançar mais do que 20 quilômetros em território paulista.)
Na Frente Norte, já no dia 10 de julho, tropas da Força Pública eram destacadas para ocupar a região do Túnel da Mantiqueira, a 9 quilômetros de Passa Quatro, passagem obrigatória na rota ferroviária de Minas Gerais para São Paulo. Cinco dias depois, começava a sangrenta luta pelo controle daquele que era considerado um dos pontos mais estratégicos da campanha: se os constitucionalistas o perdessem, estaria aberto o caminho para as tropas federais vindas de Minas e do Norte - Nordeste, através do território mineiro.
As primeiras operações no Túnel foram comandadas pelo coronel Herculano de Carvalho, que mais tarde assumiria o comando geral da Força Pública e seria duramente criticado, em alguns setores revolucionários, por ter concordado com a rendição da milícia, nos últimos dias da Revolução.
Do lado dos federais, um dos comandantes era o coronel Eurico Gaspar Dutra (então à frente de uma unidade do Exército em Três Corações), que se esquivara de um insistente assédio para aderir à causa constitucionalista. E outro futuro presidente prestava serviços ali: o jovem capitão Juscelino Kubitschek, médico da milícia mineira, que lá organizou um hospital de campanha, tão numerosas eram as baixas de ambos os lados.
A resistência paulista no túnel também se manteve até o fim. Se vencida, teria ficado irremediavelmente vulnerável a retaguarda das forças do coronel Euclides Figueiredo no Vale do Paraíba, já assediadas, frontalmente, por contingentes vindos do Distrito Federal, e pelo flanco (as tropas desembarcadas pela Marinha na região de Parati e Cunha).
Aos poucos a ditadura organizava suas forças, fazendo convergir contra São Paulo tropas das várias milícias estaduais, postas à disposição do governo pelos respectivos interventores.
Todo esse exército - heterogêneo, mas numeroso - passou a fustigar o Estado por pelo menos nove pontos diferentes. Ao norte, além do Túnel (e do Vale do Paraíba) havia as frentes de Itajubá, de Ouro Fino e Pouso Alegre e de Uberaba; ao sul e a oeste, além de Itararé, as frentes de Ribeira e Apiaí e a de Jacarezinho, no Paraná.
Para enfrentar esse contingente, São Paulo contava com 10 ou 12 mil soldados da Força Pública, 8 a 10 mil homens de guarnição federal (os números variam um pouco conforme as fontes) e um voluntariado estimado em 50 mil ora em 100 mil ou mais. O fato é que, pela quantidade de fuzis disponíveis, o número máximo de combatentes paulistas dificilmente poderá ter passado de 35 mil, ao todo.
Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, 8/7/1982 - Jornal da Tarde, páginas 5 e 6.
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