A recusa do governo paulista a essas condições, que considerou "de capitulação", seria criticada, tempos depois, pelo coronel Euclides Figueiredo, mesmo tendo sido ele o último comandante a aceitar a derrota: "Seria uma solução intermediária; meia vitória. Erro prosseguir na luta armada, quando por todos os lados o adversário dava mostras de sua superioridade numérica e de recursos crescentes, os quais não podíamos superar somente com a bravura de nossa gente, na esperança de que outros Estados viessem a acompanhar São Paulo".
Ainda havia empenho para que isso acontecesse, principalmente quanto ao Rio Grande do Sul. Desde os primeiros dias do movimento, ainda do Rio de Janeiro, e depois de São Paulo, João Neves da Fontoura cobrava de seus conterrâneos o compromisso assumido com São Paulo, reclamando apoio efetivo no campo da luta.
Não era fácil, porém, aos líderes da Frente Única, então com a polícia no seu encalço, levantar o Rio Grande contra a ditadura, como pretendiam. Borges de Medeiros, Lindolfo Collor, Batista Luzardo, Raul Pilla, Glicério Alves deixam a capital e, em fins de agosto, acompanhados de uns escassos combatentes, vão tentar estabelecer um governo provisório em Santa Maria. Mas são interceptados por tropas leais à ditadura, e os que conseguem escapar se refugiarão em estâncias do Interior, na esperança de se reagruparem mais tarde.
Entre eles, o setuagenário Borges, preso afinal em 20 de setembro, após um tiroteio que durou três horas. O lendário caudilho não conseguira levantar a Brigada, que durante 30 anos se submetera ao seu exclusivo comando. E a ajuda do Sul nunca viria.
A essa altura, no entanto, o próprio comandante-chefe das forças constitucionalistas dava demonstrações - embora não públicas - de que já estava disposto a capitular. Em carta ao ministro da Marinha, almirante Protógenes Guimarães, Klinger pede-lhe que consulte o governo sobre as condições para um armistício. Diz que está disposto a isso porque, "afinal de contas, há união de pontos de vista a respeito do ponto essencial - a pronta constitucionalização do país". (Correspondência idêntica foi por ele enviada ao general Menna Baarreto).
A carta de Protógenes tem data de 12 de setembro, e a resposta, de três dias depois. As condições impostas pela ditadura já são outras: há novo item, prevendo punições para os responsáveis pela rebelião; e não se fala mais em constituição provisória.
Já não há, como se verifica, "união de pontos de vista a respeito do essencial", mas nem por isso Klinger se sente desestimulado a prosseguir as negociações para o cessar-fogo, usando os bons ofícios do general Menna Barreto.
No campo de batalha, as defesas de São Paulo em torno da Capital começam a esboroar-se, principalmente pelos lados de Minas Gerais, e as tropas federais aproximam-se dia a dia. No dia 27, o coronel Herculano de Carvalho, convencido de que não conseguiria manter a resistência no setor de Campinas, para onde fora designado dias antes, organiza uma reunião de oficiais das forças constitucionalistas. Vários comandantes de destacamentos manifestam-se, fazendo um balanço sombrio sobre a situação nas diversas frentes e recomendando providências para um cessar-fogo.
Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo - Quinta-feira, 8/7/1982 - Jornal da Tarde, página 6
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