Os bares e cafés ainda fervilhavam, mas poucos notaram quando, por volta das 22 horas, começaram os primeiros movimentos de tropas. O que chamou atenção foi que, pouco depois, os alunos da Faculdade de Direito, no Largo São Francisco, começaram a circular com fuzis a tiracolo. Pela meia-noite, tropas da Força Pública ocupavam os Correios e, em seguida, a Telefônica. Foram os primeiros atos revolucionários ostensivos.
Mesmo os que tivessem lido atentamente os jornais daquele dia não encontrariam indícios de que a Revolução fosse tão iminente. O Estado de S. Paulo, por exemplo, dava este título ao seu principal noticiário político: "Um dia sem notícias". Informava: "Rio, 8. Mais árido ainda do que ontem se apresenta hoje o terreno onde o noticiarista tenta em vão obter umas respingas de informações políticas para oferecê-las à natural e ansiosa curiosidade do público. Hoje foi positivamente um dia sem notícias". O redator admitia, porém, que "proliferavam os boatos, pelos corredores do Ministério, pelas redações dos jornais, pelos cafés, pelos quartéis..."
O editorial abordava um tema econômico, chamando a atenção dos poderes competentes para o esvaziamento da importância do porto de Santos, e o noticiário local informava sobre uma reunião do secretariado de Pedro de Toledo e sua decisão de mandar cumprimentos ao ditador pela designação do general José Luís Pereira de Vasconcelos para o comando da 2ª Região Militar. Outra notícia local: o anúncio da inauguração do serviço de ônibus, de meia em meia hora, para o "vizinho município" de Santo Amaro.
No dia seguinte, sim: em manchete, O Estado (jornal) anunciava a revolução, informando, nas páginas internas, que "Está vitorioso, em todo o Estado, o movimento revolucionário de caráter constitucionalista". E nos subtítulos: "Pela manhã, já havia aderido todas as guarnições federais, inclusive Quitaúna - Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Santa Catarina integrados no movimento - As forças de Mato Grosso marcham para Bauru - O general Klinger chegará hoje de avião - A aclamação do dr. Pedro de Toledo presidente do Estado - Forte concentração de forças paulista em Cruzeiro".
Depois de recapitular as origens e os objetivos do movimento - "repor o Brasil, rapidamente, sob o domínio da lei" - e de traçar um breve perfil de seus principais comandantes militares (o general Isidoro Dias Lopes e o coronel Euclides Figueiredo), o jornal faz um balanço das adesões:
"(...) No Rio Grande do Sul e em São Paulo, a totalidade das guarnições federais, das polícias estaduais e do elemento civil. Em Mato Grosso, toda a tropa federal, parte da polícia e contingentes civis. No Rio, Paraná e Santa Catarina, apoiam o movimento importantes contingentes. A situação em Minas Gerais pode ser resumida no apoio de diversas guarnições e na solidariedade de todos os elementos do Partido Social Nacionalista. O presidente Olegário Maciel manifestava-se francamente partidário de uma solução amistosa, mas assegurou aos chefes constitucionalistas que em nenhuma hipótese os soldados mineiros atirariam sobre as forças paulistas."
Era isso, de fato, o que esperavam os líderes do movimento, mas nada de parecido aconteceu.
No Rio Grande do Sul, a reviravolta do interventor Flores da Cunha transformou em inimigos os contingentes que os paulistas consideravam como aliados. E a solidariedade gaúcha limitou-se, a partir de então, aos esforços que, sem tropas e sem armas, os líderes da Frente Única passaram a empreender, na tentativa de manter a palavra empenhada com São Paulo.
De Mato Grosso, contavam os paulistas com a ajuda de pelo menos 6 mil soldados, número assegurado pelo general Klinger nos encontros preparatórios do movimento.
Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, quinta-feira, 8/7/1982 - Jornal da Tarde - página 5.