sexta-feira, 27 de junho de 2014

Personagens de 1932 - Flores da Cunha




Flores da Cunha

"Às vezes, tinha vontade de atar a corda ao pescoço e vir entregar-me aos paulistas, para dizer-lhes que eles é que tinham razão". Essa retratação pública foi feita perante um admirado plenário, na Assembleia Constituinte de 1946, pelo general Flores da Cunha, interventor no Rio Grande do Sul em 1932 e um dos principais responsáveis pela derrota da Revolução Constitucionalista. Aliás, como ele mesmo reconhecia, em seu inesperado depoimento:
"(...) concorri, decisivamente, para que o grande movimento paulista fosse jugulado. Mandei ao Sr. Getúlio Vargas mais de 30 corpos que organizei para a defesa de seu governo e daquilo que ele chamava de ordem".
O estranho é que Flores da Cunha, embora colocado no governo gaúcho pelo próprio Getúlio, conspirava contra a Ditadura com os políticos da Frente Única, autorizando-os a transmitir aos paulistas o apoio do Rio Grande do Sul. A partir de determinado momento, porém, atormentado por dúvidas que nunca exteriorizou aos demais conspiradores, passou a manter o Governo Provisório informado de tudo que se passava.
Na fase de conspiração, chegou a consultar o pai dos tenentes Orlando e Henrique Geisel, da guarnição de Cachoeira, quanto à possível adesão de seus filhos a um movimento contra a Ditadura (o senhor Augusto Geisel respondeu-lhe que nunca trataria tal assunto com os filhos). Na mesma fase, Flores forneceu fuzis e munição para a preparação do levante no interior do Estado; depois, ao mudar de planos, mandou recolher as armas e prender as pessoas a quem as confiara.
Dúbio até as vésperas da Revolução, a ponto de desconcertar os constitucionalistas gaúchos que contavam com ele, acabou ordenando que marchassem contra os paulistas as tropas que prometera enviar para ajudá-los.
"Espero em Deus ainda hei de voltar a São Paulo, para visitar aquelas salas quadrangulares do velho Convento de São Francisco e dobrar os joelhos para penitenciar-me", diria ainda Flores em seu ato de contrição na Constituinte, 14 anos mais tarde.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, Quinta-feira, 8/7/1932 - Jornal da Tarde, página 7.


sexta-feira, 20 de junho de 2014

Personagens de 1932 - Pedro de Toledo



Pedro de Toledo

Ausente por muitos anos da vida política do Estado, equidistante dos partidos, o ex-embaixador Pedro de Toledo, nomeado interventor em São Paulo, julgava-se no dever de conciliar os paulistas com a Ditadura.
Por isso, foi mantido inteiramente à margem da conspiração constitucionalista e só soube da Revolução, naquele 9 de julho, quando as tropas já estavam nas ruas. Por lealdade ao Governo Provisório, que o colocara no cargo, pensou até em resistir, só não o fez  porque se convenceu, logo, da unanimidade de seus conterrâneos em torno do movimento. Acabou aceitando, então, converter-se de interventor em governador.
Se foi, literalmente, o último a aderir, Pedro de Toledo esteve, também, entre os últimos a aceitar a derrota. Quando a Força Pública já se rendera e as tropas comandadas pelo general Klinger estavam prestes a fazer o mesmo, o governador ainda estimulava  a resistência civil à capitulação, que afinal se revelaria inevitável. 
O inconformismo de Toledo transparece claramente no último manifesto divulgado pelo governo constitucionalista, com menções à "ausência dos companheiros de lutas cujas armas contra nós se voltaram, referindo-se aos oficiais da Força Pública que o afastaram do poder, no dia 2 de outubro.
Em seu lugar, assumiu o governo o coronel Herculano de Carvalho, numa atitude que atribuiria, em explicações posteriores, à intenção de tornar desnecessária a presença de tropas da Ditadura na Capital, conforme entendimento seu com Góis Monteiro.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, quinta-feira, 8/7/1932 - Jornal da Tarde, página 7.


sexta-feira, 13 de junho de 2014

Personagens de 1932 - General Isidoro Dias Lopes




General Isidoro Dias Lopes

Veterano das lutas dos primeiros anos da República no Rio Grande do Sul, o general reformado Isidoro Dias Lopes era dono de grande prestígio popular, em São Paulo, por sua ação no comando da Revolução de 1924, movimento que se encerrou 22 dias após ter sido iniciado, porque os rebeldes decidiram poupar a Capital do bombardeamento de que era ameaçada pelas forças governistas.
(A Revolução de 1924, precursora em seus objetivos da de 1930, pretendia depor o presidente Artur Bernardes, cuja gestão era considerada pelos revolucionários "uma continuação dos governos eivados de vícios que tem dirigido o Brasil nos últimos lustros". Os remanescentes do movimento, após a retirada, dariam origem à Coluna Prestes).
Em fins de 1930, o general Isidoro foi designado para o comando da 2ª Região Militar, cargo do qual seria afastado, meses depois, por seu envolvimento numa frustrada conspiração destinada a depor o interventor João Alberto.
Constituída a Frente Única paulista e lançadas as bases do movimento constitucionalista, foi ele o primeiro chefe militar a engajar-se na conspiração, dedicando-se, em seguida, a um intenso trabalho de arregimentação de adeptos nos meios militares de São Paulo e de outros Estados. Irrompido o levante, entregou o comando ao coronel Euclides Figueiredo, até a chegada do general Klinger, escolhido por ele para o comando geral das forças constitucionalistas.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo - Quinta - feira, 8/7/1932 - Jornal da Tarde, página 7.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Personagens de 1932 - João Alberto Lins



João Alberto Lins

Quando se iniciou a Revolução Constitucionalista, já fazia um ano que o tenente João Alberto Lins de Barros deixara de ser interventor em São Paulo. Ainda assim, poucos fatores contribuíram tanto para o levante como sua movimentada passagem pelo governo paulista. 
Apresentada por Getúlio como coisa transitória, a imposição de João Alberto, pernambucano de nascimento, foi recebida com protestos generalizados em São Paulo. Ele mesmo iria tentar desfazer o mal-estar, agindo politicamente, mas nunca chegou a ser bem-sucedido, nesse aspecto. Pelo contrário, ao converter o Estado em campo de ensaio da pregação tenentista, o interventor iria frequentemente chocar os indignados paulistas.
Logo de início, tentou uma desastrada reforma agrária, retalhando propriedades do governo na região de Itu e entregando-as a combatentes não regulares da Revolução de 1930. Sempre mostrando preocupação com as questões sociais, antecipou-se à própria legislação trabalhista de Vargas e decretou um aumento geral de salários na indústria. Em seguida, proibiu demissões de grevistas.
Depois, autorizou o PC a instalar sua sede em São Paulo e a fazer comícios quando bem entendesse. Nem por isso foi muito estimado pelos comunistas, que qualificavam suas atitudes de "tentativas de enganar as massas" e o acusavam de "apaniguar lacaios do imperialismo" (norte-americano e inglês).
E, apesar de seus esforços para defender os interesses de cafeicultores paulistas junto ao governo federal, nunca chegou a conquistar a confiança da opinião pública de São Paulo, que ao fim de algum tempo passou a mover-lhe oposição sistemática, exigindo que o governo fosse entregue a um "civil e paulista".
Exonerado, afinal, em julho de 1931, João Alberto ainda voltaria, em outras ocasiões, a influir na vida política de São Paulo, uma delas ao provocar a renúncia do interventor Laudo de Camargo.
Durante a Revolução Constitucionalista, comandou as tropas federais que enfrentaram os paulistas na região de Parati e Cunha.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo - Quinta-feira, 8/7/1932 - Jornal da Tarde, página 7.