sexta-feira, 30 de maio de 2014

Personagens de 1932 - General Bertoldo Klinger




General Bertoldo Klinger

Oficial de grande prestígio nos meios militares, de competência reconhecida até por seus adversários, o general Bertoldo Klinger, designado pelo general Isidoro Dias Lopes para o comando militar da Revolução Constitucionalista, teve um procedimento frequentemente desconcertante à frente do movimento.
Apontado como responsável pela precipitação do levante, com o explosivo documento com que questionou a escolha do novo ministro da Guerra, Klinger iria ter atitudes surpreendentes em várias outras ocasiões.
Foi uma surpresa, por exemplo - e nada agradável para os paulistas -, que ele tivesse chegado a São Paulo acompanhado de uns poucos oficiais e soldados, quando prometera trazer pelo menos seis mil homens da guarnição do Mato Grosso, da qual acabava de ser afastado. É que, também surpreendentemente, Klinger se submetera sem reação alguma à punição que lhe foi imposta, entregando o comando da tropa que lhe era obediente.
Algumas de suas iniciativas nunca chegaram a tornar-se públicas, como a proposta que apresentou ao ministro da Marinha, almirante Protógenes Guimarães, no dia 12 de agosto, quando os revolucionários paulistas ainda se sentiam em plenas condições de vencer. Segundo tal proposta, encaminhada a Protógenes por um emissário secreto, caberia ao almirante depor Getúlio, para depois ambos decidirem a quem entregar o governo até a realização de eleições.
Protógenes rejeitou a oferta (que seria depois denunciada por Getúlio como tentativa de promover a cizânia entre os que lhe eram leais). Mas foi por seu intermédio que, cerca de um mês depois, Klinger tomaria a iniciativa de propor um armistício à ditadura, sem consultar nem o governo de São Paulo nem os comandantes das várias frentes de luta, que só souberam de suas intenções quando ele já as havia comunicado ao inimigo.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo - Quinta - feira, 8 - 7 - 1982 - Jornal da Tarde - página 7.

sábado, 24 de maio de 2014

Personagens de 1932 - João Neves da Fontoura



JOÃO NEVES DA FONTOURA

Vitoriosa a Revolução de 1930, a bordo do trem que trazia seus chefes a São Paulo, a caminho do Catete, discutia-se a quem entregar o governo paulista. E só houve uma voz a defender a ideia de confiá-lo aos próprios paulistas: a de João Neves da Fontoura.
João Neves, que fora vice de Getúlio no governo do Rio Grande, iria ser voto vencido em várias outras ocasiões daí em diante, principalmente ao insistir para que o Governo Provisório cumprisse compromissos assumidos durante a campanha da Aliança Liberal.
Desligado do governo, nem por isso foi dos primeiros a aderir ao movimento constitucionalista, e, quando aderiu, nunca deixou de insistir em que só se cogitasse de luta armada depois de absolutamente esgotadas todas as alternativas.
Quando o levante se precipitou, entretanto, converteu-se num de seus mais eloquentes tribunos, sobretudo para cobrar de seus conterrâneos a adesão prometida a São Paulo. Já nos primeiros dias de luta, escrevia a Borges de Medeiros, falando do isolamento paulista: "Que quer o senhor que façam a guarnição do Rio e Minas, se o Rio Grande falha estrepitosamente e ainda se prepara para agredir São Paulo? Qual o desfecho? Não sei. Se o Rio Grande agir sem demora, a partida ainda estará ganha, e bem ganha. Senão, teremos a guerra civil (...) E já pensou o senhor no que será o dia de amanhã, se São Paulo for vencido pelas armas?"

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, quinta-feira, 8-7-1982 - Jornal da Tarde, página 7.

sábado, 17 de maio de 2014

Personagens de 1932 - General Góis Monteiro



GENERAL GÓIS MONTEIRO 

O general Góis Monteiro, comandante chefe das forças leais ao Governo Provisório, conduziu a campanha contra o Exército constitucionalista com eficiência e habilidade, esperando que o correr do tempo acabasse por minar a resistência das isoladas tropas paulistas.
Habilidade, aliás, nunca lhe faltou. Designado para servir no Rio Grande do Sul em 1929, como pessoa de absoluta confiança do governo Washington Luís, ele acabou aceitando, pouco depois, o comando militar do movimento revolucionário que o afastou do poder.
Vitoriosa a Revolução de 1930, Góis não encontrou dificuldade para entender-se com os tenentes, com os quais jamais tivera afinidades políticas (ao contrário: chefe do Estado-Maior do general Álvaro Mariante, fora um perseguidor tenaz da coluna Prestes). E tornou-se, até, membro assíduo do Clube 3 de Outubro (organização basicamente tenentista, destinada a sustentar a continuidade revolucionária).
Também em São Paulo, Góis Monteiro deu seguidas demonstrações de sua versatilidade. Um exemplo: em maio de 1931, designado comandante da 2ª Região Militar em substituição ao general Isidoro Dias Lopes, afastado depois de uma frustrada conspiração contra o interventor  João Alberto, o general Góis Monteiro não hesitou em comparecer a uma homenagem ao mesmo Isidoro, promovida pela Liga de Defesa Paulista, no Teatro Municipal.
Ainda em São Paulo, chegou a ter frequentes contatos com dirigentes constitucionalistas, atitude que atribuiria, mais tarde, a propósitos pacificadores que o levavam a entender-se com os dois lados.
Testemunhos de contemporâneos seus sustentam que, caso convidado, Góis não teria hesitado em assumir o comando do movimento, desde que o fato pudesse representar, para ele, a perspectiva de chegar ao poder. Como isso não ocorreu, ficou com a Ditadura, à qual ainda prestaria serviços por muito tempo. Rigorosamente, até 1945, quando ajudou a afastar Vargas do poder.

Fonte: O ESTADO DE S. PAULO, Quinta-feira, 8/7/1982, Jornal da Tarde, pág. 7.

domingo, 4 de maio de 2014

Personagens de 1932 - Júlio de Mesquita Filho




JÚLIO DE MESQUITA FILHO

"Nosso objetivo era impor aquilo que a Revolução de 1930 havia prometido e não realizara. Isto é, a democratização da República, a implantação, no País, de um regime liberal". 
A afirmação é de Júlio de Mesquita Filho, que, ao se lançar à articulação do movimento constitucionalista, procurava interpretar o sentimento que foi tomando conta da comunidade de seu Estado, à medida que se definiam os rumos do Governo Provisório.
Rumos que, no julgamento da grande maioria dos paulistas, se afastavam dia a dia dos compromissos revolucionários de moralizar o processo eleitoral, acabando com o coronelismo e instituindo o voto universal e secreto. rumos, ainda, que aos olhos da opinião pública de São Paulo iam assumindo clara impressão de desordem.
A par disso, evidenciava-se a deliberação do Governo Provisório de alijar os dirigentes paulistas do processo político, tanto ao nível local como no plano federal.
Foi esse quadro todo que levou Júlio de Mesquita Filho a se empenhar, de início, numa antes inimaginável aliança entre o Partido Democrático e o Republicano. O passo seguinte seria articular a sustentação militar ao movimento, tarefa para a qual procurou a colaboração  do general Isidoro Dias Lopes, seu amigo pessoal. Depois, tratou de obter ajuda de fora do Estado, principalmente em contatos com Raul Pilla, do Partido Libertador, e com o republicano João Neves, ambos do Rio Grande do Sul. Ele sabia que seria inviável o sucesso de uma luta armada contra a Ditadura sem o apoio gaúcho, afinal assegurado pelo próprio interventor Flores da Cunha, mas que no último momento faltaria à palavra.
Irrompido o levante, partiu para a frente de combate do Vale do Paraíba, onde permaneceu, com o coronel Euclides Figueiredo, até os dias finais da Revolução. Informado de que se iniciavam negociações para a rendição, voltou às pressas para a Capital, a fim de tentar impedir um armistício em condições humilhantes para São Paulo. Era tarde: a Força Pública estava firmando o acordo com a Ditadura, e emissários do general Klinger preparavam-se  para fazer o mesmo.
A exemplo dos demais líderes do movimento, foi mandado para a Casa de Detenção, no Rio de Janeiro, e daí para o exílio, que passou em Estoril, Portugal. 

Fonte: O Estado de S. Paulo - Quinta-feira, 8-7-1982 - Jornal da Tarde, p. 7.