sábado, 21 de dezembro de 2013

Relatos da História VIII

O jornal O Estado de S. Paulo procurava explicar, aos seus leitores, as origens do movimento: "O movimento revolucionário de caráter constitucionalista que ontem irrompeu em São Paulo, é consequência de uma série de fatos anteriores, que começa a ser possível reconstituir através do depoimento dos seus supremos responsáveis e das próprias circunstâncias.
As negociações de índole política que ultimamente se desenvolveram, caracterizaram com nitidez o profundo dissídio que se estabelecera entre a ditadura, a propender para as correntes extremistas e as mais ponderáveis forças políticas do país, representadas pelas frente únicas, a reclamar a mais breve reconstitucionalização. Os entendimentos sucessivos, que se realizaram no Rio de Janeiro, ora no Rio Grande, em São Paulo e Minas, tendiam a encaminhar o Governo Provisório no rumo da restauração legal, para o que se reclamava, menos do que as palavras e promessas protelatórias, um conjunto de atos positivos e de medidas concretas, que revelassem o inabalável propósito de restabelecer quanto antes a ordem legal.
Nesse sentido, foi que se concertaram todas as condições para a remodelação do ministério do Governo Provisório da República. São conhecidas as circunstâncias que, nestes últimos dias, impediram a efetivação desse propósito, com o rompimento consequente das frentes únicas com a ditadura. Ao mesmo tempo que se desenvolviam essas negociações políticas, os chefes das diversas correntes partidárias, notadamente de São Paulo e do Rio Grande, encaminhavam a articulação das forças militares e populares, que seriam mobilizadas em caso de fracasso dos entendimentos políticos. Pode-se ter uma ideia da intensa atividade desenvolvida por esses elementos, através de um simples detalhe: nesses últimos dois meses nada menos de onze enviados especiais seguiram para o Rio Grande do Sul, fazendo sempre a viagem por via aérea. 
Em consequência desses entendimentos estabeleceu-se uma sólida aliança entre os Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e, ultimamente, Minas Gerais, além das ramificações em outros Estados,, com a Capital Federal, Paraná, Santa Catarina e outros".
Na noite do levante, Vargas, procurando assegurar o apoio de Minas Gerais, telegrafou a Olegário Maciel, pedindo a cooperação dos mineiros para sufocar o levante "nitidamente reacionário", que acabava de eclodir em São Paulo. No Rio Grande do Sul, o interventor Flores da Cunha, que chegara a participar das conspirações contra o Governo Provisório, acabou reafirmando seu apoio a Vargas, e assim procederam os demais governos estaduais.
Ao precipitarem o movimento armado sem ter a certeza do apoio de outros estados, fiando-se nas palavras - e apenas nas palavras - de alguns dissidentes do novo regime e sem o apoio das forças militares do Mato Grosso, os paulistas marcharam sozinhos para uma guerra contra o Governo Provisório.

Fonte: PEREIRA, Marcos Aurélio. Revolução Constitucionalista.Editora do Brasil S/A. 1989.

Nenhum comentário:

Postar um comentário