sábado, 28 de dezembro de 2013

Relatos da História IX

Os organizadores do movimento constitucionalista esperavam que a luta tivesse uma rápido desfecho, pensavam que a luta seria uma passeata até a capital da República e que o ditador Getúlio Vargas cederia às pressões. Enganaram-se! A luta durou mais tempo do que pensavam e para ela não estavam preparados. Desde o início dos combates, as forças constitucionalistas enfrentaram a escassez de material bélico - armas, munições, meios de transporte, etc.
Quando iniciou a guerra, a Força Pública Paulista possuía mais de 8.000 fuzis e 3.000.000 de cartuchos, os quais estavam imprestáveis, enquanto os fuzis "se escangalhavam depois de dar três tiros". Dos "fuzis, aliás, os mais novos - cerca de 40% do total - eram modelo 1908, enquanto o resto datava até de 1893. Da 2ª Região a FPP recebeu mais 7.800, mas 36% deles eram modelo 1895 descalibrados". (S. Hilton). Além deste material, as forças constitucionalistas contavam com mais 50 canhões, 149 metralhadoras e 525 fuzis-metralhadoras espalhados pela região.

Fonte: PEREIRA, Marcos Aurélio. Revolução Constitucionalista. Editora do Brasil S/A. 1989.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Relatos da História VIII

O jornal O Estado de S. Paulo procurava explicar, aos seus leitores, as origens do movimento: "O movimento revolucionário de caráter constitucionalista que ontem irrompeu em São Paulo, é consequência de uma série de fatos anteriores, que começa a ser possível reconstituir através do depoimento dos seus supremos responsáveis e das próprias circunstâncias.
As negociações de índole política que ultimamente se desenvolveram, caracterizaram com nitidez o profundo dissídio que se estabelecera entre a ditadura, a propender para as correntes extremistas e as mais ponderáveis forças políticas do país, representadas pelas frente únicas, a reclamar a mais breve reconstitucionalização. Os entendimentos sucessivos, que se realizaram no Rio de Janeiro, ora no Rio Grande, em São Paulo e Minas, tendiam a encaminhar o Governo Provisório no rumo da restauração legal, para o que se reclamava, menos do que as palavras e promessas protelatórias, um conjunto de atos positivos e de medidas concretas, que revelassem o inabalável propósito de restabelecer quanto antes a ordem legal.
Nesse sentido, foi que se concertaram todas as condições para a remodelação do ministério do Governo Provisório da República. São conhecidas as circunstâncias que, nestes últimos dias, impediram a efetivação desse propósito, com o rompimento consequente das frentes únicas com a ditadura. Ao mesmo tempo que se desenvolviam essas negociações políticas, os chefes das diversas correntes partidárias, notadamente de São Paulo e do Rio Grande, encaminhavam a articulação das forças militares e populares, que seriam mobilizadas em caso de fracasso dos entendimentos políticos. Pode-se ter uma ideia da intensa atividade desenvolvida por esses elementos, através de um simples detalhe: nesses últimos dois meses nada menos de onze enviados especiais seguiram para o Rio Grande do Sul, fazendo sempre a viagem por via aérea. 
Em consequência desses entendimentos estabeleceu-se uma sólida aliança entre os Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e, ultimamente, Minas Gerais, além das ramificações em outros Estados,, com a Capital Federal, Paraná, Santa Catarina e outros".
Na noite do levante, Vargas, procurando assegurar o apoio de Minas Gerais, telegrafou a Olegário Maciel, pedindo a cooperação dos mineiros para sufocar o levante "nitidamente reacionário", que acabava de eclodir em São Paulo. No Rio Grande do Sul, o interventor Flores da Cunha, que chegara a participar das conspirações contra o Governo Provisório, acabou reafirmando seu apoio a Vargas, e assim procederam os demais governos estaduais.
Ao precipitarem o movimento armado sem ter a certeza do apoio de outros estados, fiando-se nas palavras - e apenas nas palavras - de alguns dissidentes do novo regime e sem o apoio das forças militares do Mato Grosso, os paulistas marcharam sozinhos para uma guerra contra o Governo Provisório.

Fonte: PEREIRA, Marcos Aurélio. Revolução Constitucionalista.Editora do Brasil S/A. 1989.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Relatos da História VII

Às 21 horas, segundo o Coronel Figueiredo, São Paulo já estava sob o controle dos constitucionalistas. No entanto, duas medidas, de fácil execução, precisaram ser tomadas, com o objetivo de assegurar a vitória do movimento: manter a unidade política do movimento e apossar-se do Quartel-General da 2ª Região Militar. Esta última medida foi executada no mesmo dia. Com o afastamento do Coronel Manuel Rabelo do comando da 2ª RM, assumiu provisoriamente o Coronel Artur Lopes de Castro Pinho, amigo do Coronel Figueiredo. O comandante das forças constitucionalistas persuadiu o amigo a entregar o comando sem resistências, o que de fato ocorreu. Quanto à questão política do movimento, tanto militares como civis concordaram que a permanência do embaixador Pedro de Toledo à frente do governo seria a garantia de uma não ruptura entre as forças políticas (PD e PRP) do movimento. Após relutar um pouco, o interventor Pedro de Toledo aderiu ao movimento e, na tarde do dia 10, enviou um comunicado a Vargas, onde afirmava: "Esgotados todos os meios que ao meu alcance estiveram, para evitar o movimento que acaba de verificar-se na guarnição desta região, ao qual aderiu o povo paulista, não me foi possível caminhar ao revés dos sentimentos do meu Estado. Impossibilitado de continuar a cumprir o mandato (...) venho renunciar ao cargo de Interventor". No dia seguinte, Pedro de Toledo aclamado governador do Estado, assumindo com os líderes do PD e do PRP o comando político do movimento constitucionalista, enquanto o comando militar ficou a cargo do general Bertoldo Klinger, que chegou em São Paulo três dias após ter iniciado o levante.
No mesmo dia em que Pedro de Toledo renunciou à interventoria, o genral Isidoro Dias Lopes e o coronel Euclides Figueiredo lançaram um manifesto assumindo as responsabilidades do movimento e pedindo à população "ordem, serenidade e disciplina".

Fonte: PEREIRA, Marcos Aurélio. Revolução Constitucionalista. Editora do Brasil S/A. 1989.